Hilton Chichorro – Transporte Pesado Também se Conjuga
Publicada originalmente na Revista Transporte Moderno n° 10 – maio 1964
Uma grande empresa de transportes, a Perfex, especializada em cargas “impossíveis” – muito pesadas ou volumosas e quase sempre indivisíveis – se prepara para implantar no Brasil a conjugação dos transportes (rodoviário, ferroviário e marítimo) para cargas pesadas. Sobre este projeto, como também sobre conjugação em geral, TRANSPORTE MODERNO ouviu o Sr. Hilton Chichorro, diretor-presidente da Perfex, cujo pensamento sobre os problemas de transporte é o seguinte: “Transporte Pesado Também se Conjuga”
Hilton Chichorro – No Brasil, os sistemas ferroviário, rodoviário e marítimo possuem características próprias, sofrendo limitações ocasionadas principalmente pelas suas deficiências e utilização inapropriada. Apresentam vantagens e desvantagens e a supremacia natural de um sobre o outro, face às contingências do momento. A utilização correta e a conjugação desses sistemas evitariam a concorrência entre os mesmos. As reais vantagens da introdução desta conjugação no Brasil são provadas pela sua aceitação nos países mais desenvolvidos, nos quais ela constitui hoje uma afirmação. Como premissas básicas de uma política nacional de conjugação de transportes citam-se os pontos seguintes:
1) O frete será tanto mais baixo quanto maior for a coordenação dos diversos sistemas de transporte.
2) A política tarifária deve estimular igualmente cada tipo de transporte.
3) O transporte é um fator de equilíbrio entre a produção e o consumo, de sorte que nenhuma política de preços poderá ser bem conduzida sem levá-lo em consideração.
As diretrizes de um sistema nacional de transporte são as seguintes:
1) Cada sistema de transporte deve ser colocado em sua verdadeira função na viação nacional, reservando-se à navegação e às ferrovias, devidamente aparelhadas, a condução de cargas pesadas a grandes distâncias.
2) Os transportes imprescindíveis ao abastecimento nacional devem ser prioritários.
3) Deve ser estabelecida, na base de ferrovia complementada por rodovia, a circulação no triângulo econômico Rio-São Paulo-Belo Horizonte, e a sua ligação com as demais regiões do país. É possível agora concluir sobre a missão de cada sistema:
A) SISTEMA MARÍTIMO – É a linha básica dos transportes econômicos, incluindo o transporte de cargas pesadas a grandes distâncias.
B) SISTEMA FERROVIÁRIO – É a estrutura básica da rede de transportes terrestres. Poderá suprir o tráfego marítimo quando este sofrer um colapso. Tem necessidade de ser complementada pela rodovia entre regiões economicamente importantes para dar flexibilidade ao sistema. A ferrovia tem como missão o transporte de grandes cargas em percursos extensos. No caso brasileiro, a coordenação dos sistemas ferroviário e rodoviário poderá resolver os problemas de transporte, principalmente o pesado, para atender à demanda do triângulo econômico, Rio-São Paulo-Belo Horizonte.
C) SISTEMA RODOVIÁRIO – Deveria ser o sistema complementar do ferroviário e do marítimo, porém, no caso do Brasil, desempenha papel preponderante nos transportes na região do triângulo econômico e na ligação desta com as demais regiões do País.
O desenvolvimento industrial do Brasil obriga as autoridades governamentais a equacionarem o problema dos transportes de modo a não haver uma parada ou diminuição no progresso do país.
Assim sendo, para que se possa situar a questão, principalmente na condução de cargas pesadas, é necessário que se caracterizem as grandes regiões geoeconômicas:
1ª – Triângulo Rio-São Paulo-Belo Horizonte
2.ª – Sul
3.ª – Nordeste
4.ª – Oeste
A primeira, a mais importante, engloba praticamente quatro Estados. O assim chamado triângulo econômico possui notável poder energético-hidráulico, o que lhe dá possibilidade de construção de grandes usinas geradoras de eletricidade como Furnas, Três Marias, Urubupungá, Funil etc. Possui a melhor rede de transporte, embora ainda deficiente face à demanda, e que constitui pontos de estrangulamento do progresso.
As outras regiões citadas, de menor importância, oferecem, no entanto, condições para a montagem de empreendimentos industriais.
A via marítima tem a primazia de ligar o triângulo econômico às regiões
Nordeste e Sul. A circulação no interior do triângulo Rio-São Paulo-Belo Horizonte, no que tange aos sistemas terrestres, é facilitada pela presença de boas artérias, com as principais cidades ligadas por rodovias e ferrovias.
Vantagens
A conjugação rodoferroviária ou marítima das cargas pesadas apresentaria uma série de vantagens:
1) Atendimento à Política Nacional de Transporte, através da utilização correta dos sistemas de viação, pois caberia às vias férreas e marítima a condução das grandes cargas.
2) Angariação de carga para a Rede Ferroviária Federal.
3) Descongestionamentos das rodovias.
4) Maior segurança no transporte.
5) Prolongamento da vida útil das viaturas automóveis.
6) Economia de divisas para o país.
7) Proteção da pavimentação e das obras de arte das rodovias, que sofreriam menor impacto.
8) Tarifas mais baixas.
Planejamento
Com o objetivo de concretizar a conjugação rodoferroviária de cargas pesadas, a Companhia Perfex vai iniciar os contatos e entendimentos necessários com as autoridades competentes – CNT, DNEF, RFF, DNER, DER e outros órgãos.
Pela conjugação, mediante um perfeito planejamento, coordenação e controle, através de um convênio entre o DNER, DER, Rede Ferroviária e a Companhia interessada, as cargas pesadas serão transportadas em viaturas especializadas dos diversos locais de origem, pelas rodovias, até atingir aos pontos mais próximos e predeterminados das ferrovias, (pátios de manobras). Nesses locais serão transbordados para vagões ou gôndolas, que farão o transporte ferroviário. Do fim do percurso por ferrovia até o destino final, com uma operação inversa de descarga e carga (transbordo), os volumes seguirão por rodovia. A companhia interessada arrendará os vagões especializados e se encarregará da carga e descarga. Para levar a efeito a conjugação, haveria necessidade de um apoio total da RFF, DNER e outros órgãos governamentais.
O entrosamento com o DNER e DER possibilitaria também evitar-se o tráfego de cargas pesadas nas rodovias, excetuando-se apenas as cargas indivisíveis que, por motivos de ordem técnica, não pudessem ser transportadas pelas ferrovias.
Para o êxito do empreendimento, sem dúvida de vital importância para o país, a companhia amparada no convênio ou contrato, teria de exercer uma fiscalização e controle rigorosos do transporte pelas ferrovias.
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