6 horas de trabalho para os mecânicos

O Sindicato Nacional dos Aeroviários por seu Presidente abaixo-assinado, no intuito de colaborar com a digna comissão dirigida por V. Excia, vem, respeitosamente, sugerir dirija V. Excia sua preciosa atenção para um relativamente numeroso grupo de trabalhadores que, data vênia, não têm merecido o necessário amparo por parte dos legisladores do trabalho.

Trata-se, aqui, no caso dos chamados “mecânicos de pista”. Não ignoram V. Excias. como é árdua e perigosa a tarefa dêsses profissionais. Os mecânicos de pista, todos bem o sabem, constituem aquela classe que, no próprio momento da chegada de aviões no aeroporto, dirigem-se às aeronaves para prontamente delas cuidar. Em tais momentos, a temperatura de um motor, principalmente em certas partes, atinge mais de mil gráus centígrados e, assim, a simples aproximação de tais máquinas resulta em expor o empregado a fortíssimo calor. Frequentemente ainda são êsses trabalhadores constrangidos por dificuldades técnicas a mergulhar meio corpo dentro da fuselagem do aeroplano, prestando serviços em temível proximidade do motor super-aquecido.

Não é, entretanto, êste o único aspecto prejudicial da labuta diária de ditos mecânicos.

Quem lê jornais, e todos o fazem, não deixará de recordar inúmeras trágicas reportagens onde se relatam casos de aeroviários decepados e mortalmente feridos pelas hélices poderosas de aviões. Estejam V. Excias, certos de referir-se a notícia a um mecânico de pista. A própria natureza da sua tarefa obriga-os a trabalhar com motores em movimento e o mais leve descuido pode significar a morte instantânea.

Não cerra aí, todavia, o rosário de misérias dessa classe indispensável ao progresso do transporte aéreo e, decorrentemente, do próprio Brasil.

Trabalham êles expostos eternamente às mais duras variações atmosféricas. Com sol inclemente, chuvas torrenciais e ventos cortantes correm aos aeroplanos no afã de possibilitar pronta partida ou indispensável reparo. Da exposição aos elementos correm aos hangares e aos departamentos de manutenção para a busca de peças e ferramentas necessárias. Assim, indo e vindo, além de sofrerem inclemência do tempo. expõem-se ainda a êsse perigo mais real: a mudança súbita e frequente da temperatura exterior para a de dentro de prédios e vice-versa.

Para culminar essa insustentável situação, é ainda costume internacional fazer tais trabalhadores exercer atividade em horário de revezamento; êsse aterrador sistema de trabalho que impossibilita aos empregados qualquer sistema metódico de vida. agravado na aviação, para completar uma série de males, pelo hábito dos empregadores de exigir quasi permanentemente a prestação de serviços extraordinários e de convocar os trabalhadores às horas mais inesperadas para serviços inadiáveis.

De tudo resulta que essa classe poderia pleitear vantagens extraordinárias e, entre outras, o pagamento do adicional de insalubridade. Aqui, porém, pretendemos apenas reivindicar uma redução de horário. Realmente, inúmeras classes. tais como bancários, jornalistas, operadores cinematográficos etc. há muito vêm sendo beneficiados, por disposição legal, com uma redução horária sensível. Tais trabalhadores, entretanto, exercem tarefas bastante mais suaves que a de mecânicos de pista e, inclusive, sempre em ambientes mais favoráveis ao bem estar físico.

Esperam, assim, os mecânicos de pista e o Sindicato Nacional dos Aeroviarios, se dignem V. Excias. fixar-lhes, no novo Código de Trabalho, horário máximo de seis horas assegurando-se-lhes, em qualquer hipótese, o salário mínimo regional.

Gratos pela atenção de V. Excia., cordialmente.

Autoria: José Vieira Guimarães *

Data: 01 de novembro de 1956

Publicação original: CLIQUE AQUI

Publicação no acervo FuMTran: CLIQUE AQUI

____________________________________________________________________________

(*) Presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas