A hora da eficiência no transporte rodoviário de carga

Brasil, despontando como a potência econômica emergente do século 21, é um país que se tem caracterizado como a terra dos contrastes, onde convivem pacificamente situações incongruentes em todas as esferas da vida social, política e econômica.

E neste cenário, convivendo com esta mesma realidade, podemos situar o transporte rodoviário de carga, que se de um lado é responsável pela transferência de bens em cifra superior a 70% do total, de outro consegue esta proeza com uma frota com idade média superior a 10 anos.

Da mesma forma, num país continental tipicamente rodoviarista, utilizam-se veículos, na grande maioria das vezes, com características técnicas inapropriadas para itinerários de longo percurso. E, por fim, podemos verificar que apesar de tantos problemas econômicos gravitando em torno de tarifas e fretes, convivemos quase que pacificamente com uma frota utilizada não mais do que em 40% do total de horas produtivas.

Porém, e para justificar a lei dos contrastes, sou da opinião que este quadro, antes de ser catastrófico, pode tornar-se a mola propulsora que fará diminuir a distância de 20 anos que nos separa dos países desenvolvidos. E isto poderá acontecer em não mais do que cinco anos, se para tal forem alertados os empresários do setor. Basta que se observe a evolução da produtividade industrial, que tem crescido muito nesta década de 80 com a implantação de novos métodos e novas técnicas.

Em recente visita à Phillips e à cervejaria Heineken, na Holanda, pude testemunhar estas afirmativas, quando verifiquei a nova geração de veículos projetados especificamente para o fim a que se destinam: transportar mercadorias de acordo com uma concepção de eficiência. A partir das dimensões externas máximas definidas para os países da Comunidade Econômica Europeia (CEE), buscou-se a otimização da densidade aparente de carga através de revolucionárias evoluções de mecânica e eletrônica.

Destaco especialmente as três seguintes alterações que contêm profundas evoluções técnicas no projeto do produto chamado caminhão. Em primeiro lugar, o rebaixamento da base ou piso da carroceria para a distância do solo em 80 centímetros, com o objetivo de maximizar a altura legal máxima, com o desenvolvimento de novos projetos de eixo-transmissão e sistemas de rodagem e pneus.

Um segundo ponto foi a revisão do design da cabine, transferindo para a parte superior da cabine o compartimento de descanso do motorista, antes localizado na parte anterior dos serviços, e com isso ganhando-se maior comprimento útil para carga dentro do limite estabelecido pela legislação.

E por último, ainda para aumentar o comprimento útil, para o sistema Romeu e Julieta muito utilizado na Europa, foi reprojetado o sistema de engate, antes fixo na traseira e agora articulado com sistema telescópico de compensação para curvas, no eixo traseiro, abaixo do piso do veículo.

Tenho absoluta convicção de que este é um futuro um pouco distante para a nossa realidade. No entanto, tenho também certeza de que não podemos cruzar a barreira dos anos 90 na inércia tecnológica e operacional em que vivemos hoje, sob pena de se acentuar uma situação anacrônica – o crescimento das frotas próprias das indústrias. tendo em vista a inoperância e ineficiência das empresas de transporte rodoviário que teimam em permanecer no status quo de 50 anos atrás. Enquanto hoje leva-se apenas alguns segundos para emitir um conhecimento de transporte, ainda se perde 3 a 4 horas em média para a carga e descarga. Da mesma forma, enquanto as informações são processadas online e em real time, perde-se quase uma hora para a operação de enlonamento.

Enquanto o usuário de transporte aplica a robótica na produção, ainda se vê obrigado a usar o homem como instrumento de carga, porque a esmagadora maioria das empresas de transporte rodoviário não se utiliza dos paletes para a movimentação dos materiais.

Se esta minha opinião é incisiva e categórica, é porque eu advogo que as empresas do transporte rodoviário de carga exerçam sua vocação natural, que é transportar. A função da indústria é produzir, e a dos supermercados, vender. No entanto, é indispensável uma ação de modernização técnica e operacional das transportadoras, pois entendo que para a próxima década o sucesso empresarial passará obrigatoriamente pela busca da eficiência.

Autoria: José Geraldo Vantine *

Data: novembro de 1988

Publicação original: CLIQUE AQUI

Publicação no acervo FuMTran: CLIQUE AQUI

____________________________________________________________________________

(*) Diretor geral da Vantine & Associados