Fluxo de caixa: prever o futuro pode custar menos
Prever o futuro não é dom divino, e sim uma técnica muito simples, que possibilita estimar, com maior precisão, o que acontecerá amanhã, na próxima semana, no próximo mês, ano ou daqui a vários anos.
O fluxo de caixa é uma das formas de se prever o futuro de uma empresa. Afinal, por pior que esse futuro possa ser, e melhor saber a realidade hoje do que na véspera de um grande transtorno. Trata-se de uma técnica muito simples, mas que não é prática comum na maioria das pequenas e médias empresas do Brasil. Isto porque simplicidade não é sinônimo de pouco trabalho.
Não é impossível “tocar um negócio” sem este instrumento, exemplos não faltam; entretanto administrar uma empresa, cujo objetivo é sempre maximizar o lucro, exige, no mínimo, visão e gerenciamento de curto prazo da situação de caixa.
Entre os especialistas, existe um provérbio muito claro que dispensa outros argumentos: “As empresas não quebram por apresentar prejuízo em seus balanços, mas por falta de caixa”.
Para empresas de transporte, seja de carga ou passageiro, o fluxo de caixa deve se constituir no principal instrumento de planejamento e controle.
No transporte de carga, por exemplo é possível identificar claramente períodos sazonais em que, freqüentemente, as receitas são menores, sem que, com isso, as despesas diminuam na mesma proporção. Outro dado importante é a predominância dos custos variáveis na estrutura de custos das empresas de transporte de carga.
Estas duas características por si só justificam a adoção do fluxo de caixa, pois será possível avaliar com antecedência qual será o impacto da queda do faturamento nos períodos de baixa carga, identificando claramente se haverá saldo de caixa; por conseqüência, será possível tomar decisões para adequar as despesas àquele nível de faturamento; os custos variáveis poderão ser minimizados a ponto de não interferir no resultado da empresa, possibilitando, assim, planejar melhores condições de operação.
No transporte de passageiro também existem períodos sazonais com os mesmos efeitos do transporte de carga; entretanto a predominância dos custos fixos se mostra mais perversa, dado o alto investimento em veículos e maiores custos com a manutenção. Outro fator importante é a entrada diária de receitas, que, mal administradas, podem gerar falta de recursos para garantir os custos fixos.
Outra contribuição do fluxo de caixa pode ser constatada no momento da ampliação ou mesmo da renovação da frota de veículos. Sem uma análise do comportamento do caixa ao longo do tempo, não será possível desenvolver uma política eficiente de renovação ou ampliação da frota, pois as condições financeiras não serão consideradas por completo. Um fluxo de caixa projetado bem elaborado indicará, entre outras coisas, qual a melhor forma de financiamento para a aquisição de bens.
A administração da transportadora pode se tornar mais eficaz se o empresário elaborar e acompanhar o fluxo de caixa. Entretanto estabelecer e pôr em prática regras e rotinas para atualização diária do fluxo de caixa, principalmente no momento inicial, gera muito trabalho e desgaste.
Em termos práticos, o fluxo de caixa é a distribuição ao longo do tempo das despesas e receitas, respeitando-se seus valores e datas de vencimento. Desta forma, a cada período (dia, mês ou ano), é possível obter o saldo que, se positivo, deve ser aplicado, e, se negativo, deve ser coberto via empréstimos ou outros recursos.
A maior dificuldade, contudo, é relacionar todas as safras e entradas de caixa que acontecerão nos próximos períodos (semanas, meses, anos etc)- algumas são óbvias, como salários e encargos, aluguel, telefone etc. Outras podem ser calculadas, como os impostos sobre faturamento, aquisições, serviços de terceiros etc. Entretanto, na maioria dos casos, é possível, com base nos meses anteriores, estimar os seguintes, mas o controle diário do fluxo de caixa se mostrará mais útil.
Assim, utilizando apenas duas operações matemáticas, a soma e a subtração, o empresário poderá prever o rumo de sua empresa com mais segurança.
Autoria: Jorge Miguel dos Santos *
Data: junho de 1999
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(*) Economista; consultor de empresas especializado em transportes. Diretor técnico da RDT-Modernizar Com. E Consultoria Ltda.