Adalberto Panzan – Assumindo o comando

Publicado originalmente na Revista BR n. 242 – janeiro de 1987

Com a ida de Sebastião Ubson Ribeiro para a NTC/Fenatac, o vice Adalberto Pansan passou a ser o novo presidente do Setcesp. Com dois anos de mandato ainda para cumprir, ele fala a Brasil Transportes de seus planos, da “briga” com Scaringella, dos problemas do setor e das perspectivas para este ano, e também do seu futuro político.

– Quais são os seus planos para o Setcesp?

– Procuraremos dar cumprimento ao que foi traçado pela diretoria no início do mandato. Todavia, como a situação econômica do País modificou-se com o Plano Cruzado, muita coisa teve que ser revista e novos ajustes deverão ser feitos, entre os quais, um de ordem financeira para podermos terminar as obras do Palácio do TRB.
O nosso setor está enfrentando problemas que não estavam nos nossos planos. A situação do transportador ficou muito difícil com os preços congelados, o acúmulo de carga, e a falta de caminhões, pneus e peças, e ainda, o aumento de salário do pessoal. Esses problemas são um fato novo e temos que tentar resolvê-los com os nossos associados.
Uma das saídas seria a maior participação do associado no Sindicato para que, através de palestras e cursos técnicos de alto nível, pudesse ficar bem a par de tudo que vem acontecendo. Hoje mais do que nunca os empresários precisam se inteirar da nova realidade do País, e nós precisamos ir de encontro as suas necessidades.

– Qual a posição do Sindicato a respeito das medidas restritivas de carga e descarga adotadas pela Secretaria Municipal dos Transportes?

– O secretário municipal dos Transportes, Roberto Scaringella, antes de implantar a primeira área de restrição, consultou os transportadores e demais segmentos envolvidos. Nós tentamos colocar então o que isto representaria para o setor. Só que o secretário entendeu a princípio que a função dele era apenas resolver o problema do trânsito e não nos foi dada a devida atenção em nenhum ponto durante as negociações.
Em seguida, ele ampliou a medida para mais duas áreas e soubemos que o seu plano iria se estender a todo o centro de São Paulo, o que viria prejudicar ainda mais os transportadores.
O transporte era feito por caminhões a diesel com capacidade para até três toneladas, e quando este se dirigia aquela região levava serviço de distribuição suficiente para um dia de trabalho.
A medida adotada pelo secretário dos Transportes restringiu a operação de carga e descarga a utilização de veículos de 1,5 tonelada, limitando portanto a Kombi, utilitário que não se encontra no mercado para aquisição, e ainda, pelo fato de ser movido a gasolina e álcool, apresenta um custo bem superior ao do caminhão a diesel.
Se consideramos ainda a elevação do custo da mão-de-obra, a dificuldade em obtê-la, e o aumento recente no preço do combustível, a situação do transportador ficou insuportável, pois passou a assumir todos esses custos sem condições porém de repassá-los aos clientes devido ao congelamento. Daí a necessidade a curtíssimo prazo de se encontrar uma solução para o problema.
Chegamos a conclusão que a solução necessariamente teria que ser uma permissão para entrada de caminhões pequenos na região ou a criação de uma tabela específica que cobrisse os referidos custos. E felizmente isto acabou acontecendo. O secretário entendeu nossa reivindicação liberando de 13 a 31 de dezembro a entrada de veículos de até três toneladas de carga na região. Durante esse período será feita uma avaliação sobre o comportamento do trânsito, mas tenho a certeza que se chegará a conclusão que o caminhão pequeno não representa nenhum obstáculo para a fluidez do tráfego. A partir daí, os transportadores entendem que a medida será adotada em definitivo o que representará a solução para o problema.

– O que representou o Plano Cruzado II para o setor?

– Em princípio uma expectativa de redução no volume de carga. A situação que se apresenta hoje é muito confusa, todavia, porque se fala em aumento da produção agrícola, onde segmentos do nosso setor poderiam esperar uma melhoria. No setor de carga industrializada entretanto, com o congelamento de preços, o mercado vem se apresentando com dificuldades para produzir, devido à escassez de matéria-prima, e para vender, com dificuldade de preço.
Com relação ao aumento de 50% no preço dos caminhões acredito que produzirá dois efeitos: de um lado irá permitir as montadoras aumentarem a sua produção, e no que diz respeito ao ágio, entendo que não deve continuar alto e a tendência será desaparecer, se bem que eram poucos os transportadores que vinham adquirindo veículos nessas condições, já que a rentabilidade não dá para isso.

– No seu entender, quais são os grandes problemas que o TRC enfrenta, e o que fazer para resolvê-los?

– Para mim o maior problema do setor é a mão-de-obra cara, que representou um aumento médio da ordem de 66,9% no custo das empresas, e sem condições de repasse. A seguir, eu destacaria a falta de caminhões. Depois, viria a falta de peças e pneus, e por último, o aumento dos aluguéis e na contratação dos serviços do carreteiro.
Com referência a solução para estes problemas, eu entendo que ela está na negociação que cada empresário terá que fazer com seus clientes. E isto já vem ocorrendo, uns com mais sucesso, e outros com menos, mas a luta é grande.

– Diante da boa receptividade que o seu nome teve junto a classe por ocasião da eleição para presidência da NTC/Fenatac, podemos dizer que o presidente do Setcesp está se preparando para assumir o comando das duas entidades máximas do setor?

– Eu já dediquei cerca de 8 a 9 anos ao sistema, e durante esse tempo procurei sempre ter uma participação bastante ativa. Isto acabou me dando um conheci- mento bem abrangente sobre o funcionamento dessas entidades, de suas necessidades, e também das empresas. O que eu posso dizer, é que estarei sempre disposto a colaborar com o sistema. Mas há muito trabalho ainda para ser feito e não pensei em ser candidato.

– Quais são as perspectivas para o setor este ano?

– O Transporte Rodoviário de Carga vai ter muito trabalho em 87, principalmente as entidades de classe, com a nova política do governo. Nós vamos ter que correr muito para conseguirmos o necessário, o básico, que são frete e custo. Fica muito difícil você ter um aumento no custo e não ter no frete. Mas o governo já está sendo sensibilizado e provavelmente a curto prazo alguma coisa poderá ficar resolvida, porque do jeito que está não pode continuar por muito tempo, é impossível.


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