Ano: 1761

Indústria Naval brasileira

Durante o período da colonização, os portugueses utilizavam pequenas embarcações para o deslocamento entre o litoral e pelos rios. Antes deles, os indígenas já faziam uso das chamadas “pirogas” para percorrer o território fluvial.

Apesar da construção de pequenas embarcações nos séculos XVI e XVII, o desenvolvimento de uma indústria naval brasileira, com a produção de embarcações de porte um pouco maior, teve em seus primórdios a instalação dos arsenais da marinha portuguesa em províncias da colônia.

De acordo com o pesquisador Alcides Goularti Filho, o primeiro Arsenal da Marinha fundado no Brasil foi no Pará, em 1761, localizado no sul da cidade de Belém. Em 1763, fundou-se o Arsenal do Rio de Janeiro, localizado em frente ao Morro de São Bento. Naquele mesmo ano, foi criado o Arsenal Real da Marinha (ARM), pelo vice-rei Antônio Álvares da Cunha, também conhecido como Conde da Cunha. A data coincide com o ano da transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro.

Em 1770, na Cidade Baixa de Salvador, foi fundado o Arsenal da Bahia, o mais importante da Colônia até 1822. Em 1789, foi construído o Arsenal de Pernambuco, situado no centro da cidade de Recife. Por volta de 1820, foi fundado o Arsenal de Santos, no litoral paulista. Por último, o Arsenal de Mato Grosso, que existia em Cuiabá, desde 1827, como trem naval, foi transformado em arsenal em 1860 e transferido para Ladário em 1873 (FILHO, 2012, p. 312).

O Arsenal Real da Marinha foi o local de construção da Nau de São Sebastião, a primeira grande embarcação totalmente produzida no Brasil. De acordo com o site do Arquivo Histórico da Marinha de Portugal, o responsável pela construção da embarcação foi António Silva. Lançada à água em 8 de fevereiro de 1767, a “nau era uma obra primorosa e riquíssima nos acabamentos” (Arquivo Histórico da Marinha de Portugal).

Ilustração que retata a Nau de São Sebastião. Origem: Marinha de Guerra Portuguesa: A Evolução dos Navios da Armada Real Portuguesa de 1488 a 1910
Ilustração que retrata a Nau de São Sebastião. 

Conforme consta nos registros históricos, a figura de proa da embarcação era um dragão, o que a levou a ser batizada de “Serpente”. Os franceses de Junot mudaram-lhe o nome para nau “Brasil”. A nau possuía 55,47 metros de comprimento, 13,41 metros de boca e 10,36 metros de pontal (aproximadamente). Sua artilharia possuía 66 peças, e a lotação em sua primeira viagem, em 1767, foi de 574 homens.

Ainda segundo os registros do Arquivo Histórico da Marinha de Portugal, a embarcação partiu do Rio de Janeiro, em 1816, como navio-chefe da divisão naval, com a missão de conduzir as Infantas à Espanha. Em maio de 1817, integrou a força naval que conduziu a esposa de Dom Pedro, a arquiduquesa Maria Leopoldina Carolina, de Livorno, na Itália, ao Brasil.

Depois de várias missões e viagens, a nau São Sebastião foi desmanchada em 1832.

O Arsenal Real da Marinha foi um espaço de crucial importância para o desenvolvimento de atividades ligadas à indústria naval no Brasil. Até 1822, apesar da construção da nau São Sebastião, suas atividades ficaram restritas a serviços de reparos em embarcações que atracavam no Rio de Janeiro. Nele existiam, segundo Alcides Goularti Filho, oficinas de funileiros, vidraceiros, canteiros.

Após 1822, passou a denominar-se Arsenal de Marinha da Corte (AMC). Retomou a construção naval com o lançamento da corveta Campista, em fevereiro de 1827. Seguiu construindo navios até 1890, período em que “foram lançados ao mar 46 navios, incluindo quatro encouraçados e quatro cruzadores, com destaque para o cruzador Tamandaré, o maior navio fabricado no Brasil até 1960. Além dos navios, também foram entregues pequenas embarcações, como saveiros, batelões, lanchas, canoas e chalanas. O momento de maior intensidade na construção naval no AMC foi o da Guerra do Paraguai (1864-1870), quando foram construídos 14 navios, incluindo o encouraçado Tamandaré (1865). As exigências da guerra ampliaram as atividades de construção e reparo de navios, de fabricação de munições e armamentos (Brasil, 1831-1872 – Ministério da Marinha)” (FILHO, 2012, p. 313).

Encouraçado Tamandaré. Construído no Arsenal de Marinha da Corte e incorporado à Armada Imperial em 1865. Foi o primeiro navio encouraçado construído no Brasil. Desempenhou papel importante operando no Rio Paraguai, na Guerra da Tríplice Aliança. Fonte: Navios com o nome Tamandaré | DPHDM (marinha.mil.br)
Encouraçado Tamandaré.
Construído no Arsenal de Marinha da Corte e incorporado à Armada Imperial em 1865.
Foi o primeiro navio encouraçado construído no Brasil.
Desempenhou papel importante operando no Rio Paraguai, na Guerra da Tríplice Aliança.

Referências Bibliográficas:

Arquivo Histórico da Marinha de Portugal. “Nau São Sebastião”.
Arquivo Nacional. Memória da Administração Pública Brasileira. Dicionário do Período Colonial. Verbete: Arsenal Real da Marinha.
GOULARTI FILHO, Alcides et al. História econômica da construção naval no Brasil: formação de aglomerado e performance inovativa. Revista Economia, v. 12, n. 2, p. 309-336, 2011.
SVARTMAN, Eduardo Munhoz. A Marinha brasileira na era dos encouraçados, 1895-1910. História: Debates e Tendências, v. 10, n. 2, p. 425-427, 2010.