Ano: 1937
Atual edifício da Estação Central do Brasil
Quem passa pelo conjunto conhecido como “Central do Brasil”, que une tanto a estação quanto o atual edifício, pode não saber que o local revela parte significativa da história das estradas de ferro no país.
Essa história remonta à criação da Companhia de Estrada de Ferro D. Pedro II, cuja primeira sessão foi inaugurada em 1858. Na época, também era conhecida como Estação do Campo, por situar-se no Campo de Santana.
Com o advento da República, em 1889, a ferrovia passou a ser chamada de Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) e sua estação de Estação Central, nome que se popularizou no século seguinte (FRAGA et al, 2020, p.04).
Em 1890, acompanhando as reformas estabelecidas durante a gestão de Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, entre 1902 e 1906, o prédio sofreu suas primeiras alterações. Em 1906 foi atingido por um incêndio que afetou uma de suas alas. Já em 1908, em razão do cinquentenário de inauguração da Estrada de Ferro, foi cogitado um novo projeto para ampliar e modificar o edifício.
De acordo com Helio Suêvo Rodrigues, foi em 1925, por determinação do então presidente Arthur da Silva Bernardes, que a estação teve seu nome alterado mais uma vez (2004, p.28-29). Para homenagear o centenário de nascimento de Pedro II, a Estação Central da EFCB passou a ser chamada de “Estação Pedro II”.
A mudança do nome e da memória remetida por ele, no entanto, não suportaria as transformações conduzidas durante o Estado Novo. Nele, a ideia de progresso, movida pelo nacional desenvolvimentismo de Getúlio Vargas, impulsionaria modificações nas políticas econômicas, nas reformas estruturais e no modelo de gestão do próprio Estado, o que refletia, de certa forma, uma intenção de abandonar o atraso vinculado às heranças coloniais e colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento.
A região na qual se situava a antiga Estação Pedro II passou a ser palco de muitas mudanças. Ali foi construído o Ministério da Educação, o Ministério da Guerra e, nos arredores, os ministérios do Trabalho e da Fazenda. Essa região central, cujos edifícios nos trazem aos dias atuais as memórias dos tempos em que o Rio de Janeiro era a capital do Brasil, ganhou ares administrativos modernos.
Um dos marcos desse processo, de acordo com Rodrigues (2004), foi justamente a construção da Avenida Presidente Vargas. O alargamento das ruas demandou a demolição de prédios no eixo que compõe desde o Campo de Santana, até a Candelária e a Praça XV. Em 1936, portanto, foi anunciado que o local onde antes fora construída a Estação Pedro II passaria por reformulações.
O projeto definitivo, assinado pelo escritório de arquitetura de Roberto Prentice, foi apresentado em 29 de novembro de 1937 (RODRIGUEZ, 2004, p.29). Após anos de reestruturação o novo edifício foi inaugurado oficialmente em 29 de março de 1943.
A nova construção recupera o estilo Art Deco que “apresenta um caráter geometrizante e inovador” (FRAGA et al, 2020, p.06). Nas palavras de Carla Fraga e outros autores, “O Art Déco é considerado um estilo pós-guerra, sendo uma ruptura total com os estilos mais rebuscados e ornamentais do passado, trazendo linhas retas e limpas, coroamento escalonado, edificações mais altas em função da utilização do concreto armado, antes inexistente” (Idem, ibidem).
O famoso relógio da Central do Brasil simboliza justamente a presença de uma nova concepção de tempo advinda da Revolução Industrial vivida tão intensamente no Brasil durante os anos iniciais do século XX. A torre em que ele se encontra possui 134 metros de altura com 28 pavimentos. Já o edifício possui sete andares, 22 elevadores e uma área útil de 115.014 m2 (RODRIGUEZ, 2004, p.30).
Desde sua reestruturação, o local se tornou um dos cartões postais da cidade, além de representar a história e a memória do Rio de Janeiro e dos cariocas. As experiências de vida que podem ser facilmente identificadas no cotidiano da estação serviram de inspiração para o premiado filme “Central do Brasil”, dirigido por Walter Salles e lançado em 1997. Premiado internacionalmente, a produção foi indicada ao Óscar de melhor filme estrangeiro e, Fernanda Montenegro, indicada ao prêmio de melhor atriz.
Referências Bibliográficas:
FRAGA, Carla Conceição Lana et al. “Turismo cultural no Campo de Santana e entorno: um estudo sobre a estação ferroviária Central do Brasil no Rio de Janeiro (RJ)”. Caderno Virtual de Turismo, v. 20, n. 2, 2020.
RODRIGUEZ, Helio Suêvo. A formação das estradas de ferro no Rio de Janeiro: o resgate da sua memória. Memória do trem, 2004.
PORTAL IPHAN. (2014). História das Ferrovias no Brasil.
Central do Brasil nos dias atuais. Fonte: Wikipedia
Foto do piloto britânico S.H. Holland, intitulada Estação D.Pedro II: Inicial da E. F. Central do Brasil], 1930, Acervo Digital Biblioteca Nacional
Página da Revista A Semana de 4 de abril de 1936 que ilustra os três momentos da Estação Central do Brasil.
Acervo Digital, Biblioteca Nacional