Camilo Cola – Verticalização alivia os sobressaltos
Publicada originalmente na Revista Transporte Moderno n. 220 – maio de 1982
O presidente da Itapemirim considera a verticalização uma arma eficaz contra a dependência a marcas e países. *
TM – Por que a Itapemirim vive tão empenhada em se libertar de tradicionais fornecedores de carroçarias e chassis? O sr. não acha que agindo assim está dando um passo ambicioso e ao mesmo tempo muito perigoso?
Cola – Prefiro não ficar na dependência de uma marca ou outra. Temos uma guerra no Atlântico Sul que ninguém esperava. É só imaginar algo com a Suécia ou Alemanha. Como ficamos? Basicamente, todos os fabricantes de motores e chassis são destes países. E oportuno fabricar o máximo dos componentes em casa ou em indústrias nacionais. E diversificando marcas, se houver problemas com a Scania, temos a Mercedes, Cummins ou Volvo. Prevenir-se e fundamental. Ninguém poderia imaginar o problema da Ciferal, no entanto, ele se apresenta sério e preocupante.
TM – Mas há acusações de que sua empresa é que estaria pretendendo o monopólio à medida em que exerceria pressões junto ao Conselho de Desenvolvimento Industrial, CDI, para que não aprove novos terceiros-eixos para ônibus. Tais denúncias são procedentes?
Cola – Nunca pressionamos e nem se quiséssemos teríamos poder para tal.
Alberto – Integramos o grupo de trabalho junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, que vem discutindo a questão do terceiro-eixo nos ônibus. Queremos que outras empresas, isto sim, também possam ter seu terceiro-eixo.
TM – Por que esta obsessiva preocupação com terceiro-eixo, bagageiro superdimensionado… Seria apenas pensando nas cargas e nas encomendas?
Cola – O brasileiro, especialmente o nordestino, leva muita bagagem quando viaja. Nas linhas do Nordeste inclusive há o costume de levar a mudança junto. Fizemos um ônibus que atendesse tal necessidade. Além de 20 kg, o passageiro paga o excesso.
Alberto – Nossos ônibus estão proibidos de levar 1 kg sequer de carga. Não temos sobras no bagageiro. Admito até que os empresários de ônibus possam ter despertado para a encomenda, achando ser um bom negócio. Acho mesmo que o interesse foi de tanto a NTC tocar no assunto. Mas é evidente que as empresas mais representativas criaram suas empresas de carga, como é o nosso caso. Fica mais barato levar no caminhão do carreteiro. E se isto acontece não é por culpa das empresas de ônibus.
TM – Há informações de que a Itapemirim estaria transferindo a fábrica de ônibus do Espírito Santo para São Paulo. É verdade?
Alberto – O que vamos fazer é inaugurar, entre julho e agosto, a sede administrativa e operacional centralizada, para a região Sul, em São Paulo, na Via Dutra, uma área de 70 mil metros quadrados com metade construída. Não há no mundo nada parecido.
TM – Há quem diga que a Itapemirim investe em publicidade de maneira dispersiva e pouco eficaz à medida em que o serviço de transporte esbarra na limitação imposta por horários determinados pelo DNER. Concorda com isso?
Alberto – Sempre investimos em publicidade. Desde a primeira linha para o Nordeste. Só fazemos isto quando temos um novo serviço a oferecer como, recentemente, no caso do Tribus entrando na linha SP-Rio. Temos um objetivo muito mais ousado do que os 18% detidos pela Única.
TM – O que existe de concreto no sentido de se abrir uma subsidiária da Itapemirim em Angola?
Cola – O governo de Angola nos fez um pedido para instalarmos uma subsidiária lá. Tudo está dependendo de alguns acertos.
Alberto – A proposta é mais ousada. Envolve, além de serviços, exportações de ônibus fabricados por nós. Estamos interessados nos mercados de países de língua portuguesa, como Angola, e América do Sul. No início de 83 já de- veremos ter o Tribus em testes provavelmente no Chile, Peru e Venezuela.
TM – Mas não é muita pretensão para um fabricante do terceiro-mundo?
Cola – Não acredito. Mas, agora, estamos pensando, efetivamente, em climatizar o ônibus. Basicamente consiste num sistema que aquece quando está frio mantendo a temperatura ambiente. No calor, refrigera. Para os Estados Unidos, que também demonstrou interesse e América Latina, todos os carros deverão ter esse sistema. Até o final do ano teremos este problema solucionado.
TM – E qual o preço do Tribus?
Cola – O preço de custo é Cr$ 15 milhões.
TM – O interesse no mercado externo e demonstração que a Itapemirim tem pouca probabilidade de colocar seu ônibus internamente?
Cola – Não acredito nisso. Até o momento não houve encomendas. Se isso acontecer, aumentaremos a produção. Estamos fabricando por mês 8 a 10 Tribus e 10 Superbus. A partir do ano que vem faremos 20 unidades de cada tipo. Temos uma frota cativa de 1,9 mil veículos e para garantir a reposição temos ainda muito por fazer.
TM – A Itapemirim não parece comungar da filosofia seguida pela Cometa de que as linhas longas a exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos, serão apenas dos aviões.
Alberto – Acho que muita gente pensa que a Itapemirim é uma empresa viável. Pois então, isto foi construído graças às linhas longas. A SP-Rio, que só compramos ano passado, é a mais curta.
(*) A entrevista com Camilo Cola foi feita pelo repórter Fred Carvalho, no Rio. As intervenções de Carlos Alberto Rezende, diretor da Itapemirim em São Paulo, constituem esclarecimentos prestados posteriormente ao redator Ariverson Feltrin.
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