Carlos Stedile – Nossos produtos não têm concorrentes
Publicado originalmente na Revista Transporte Moderno n° 251 – dezembro de 1984
Carlos Stedile, Diretor Superintendente da Agrale à época, afirma que o sucesso vem do diálogo com os usuários e da oferta de um veículo indispensável e econômico.
TM – No ano passado, a Agrale foi uma das poucas montadoras a dar lucro. Qual o segredo?
Stedile – Nosso grupo é familiar e rigidamente adequado às suas necessidades, além de preocupado em oferecer produtos tecnologicamente de ponta para nossos clientes. A Agrale, por ser pequena, tem muito mais condições de perceber o que seus usuários reivindicam, absorver as exigências do mercado e enfim, solucionar seus veículos, ajustando-os ao gosto dos seus compradores.
TM – Como isso ocorre?
Stedile – Um dos departamentos mais importantes de nossa empresa é o de pesquisa de campo, que envolve um grande contingente de técnicos especializados e que nos traz informações rapidamente. Depois, o acerto dos problemas é muito mais facilitado porque resolvemos tudo nesta sala. Não precisamos recorrer a toda aquela absurda burocracia de pedir mil licenças para as matrizes na Europa ou Estados Unidos, retardando a resolução dos problemas que, para quem usa os equipamentos, são sempre urgentes. Não é difícil um usuário da Agrale falar direto com a Diretoria sobre uma proposta e sair daqui com a solução.
TM – Os caminhões Agrale nasceram deste entrosamento?
Stedile – Exatamente. Há sete anos, produzíamos setenta motores, mensalmente, que eram utilizados em veículos simples, muito comuns aqui no Sul. A partir daí, resolvemos lançar o primeiro caminhão tipicamente agrícola do país e que, não há dúvida, fez muito bem o seu papel.
TM – Aí o IPI o inviabilizou…
Stedile – Para a utilização agrícola, o primeiro problema foi a instalação da cabina que encareceu bastante o produto, desviando-o do seu primeiro objetivo. O veículo tornou-se urbano, enquanto os rurais são hoje feitos por aproximadamente dez pequenos fabricantes. Na adaptação ao novo mercado, o aumento abrupto do IPI nos levou a abandonar nosso motor, que, para uso urbano, tornou o veículo lento, mesmo porque não foi projetado para a cidade.
TM- Por que MWM e o GM álcool?
Stedile – O TX é o único veículo da faixa de 1 a 2 toneladas com características de veículo de carga e integra um trem motor otimizado. O motor diesel de 3 cilindros da MWM, por exemplo, é excelente para essa categoria, conseguindo um consumo de apenas 10 km/litro quando carregado, graças a uma relação peso-potência ideal. Numa conjuntura como a atual, a obrigação de qualquer fábrica é oferecer o veículo mais econômico.
TM – Os caminhões Agrale estão sendo, também, cobertos por uma rede de assistência técnica ideal?
Stedile – Não, estamos com aproximadamente quarenta revendedores, cobrindo basicamente as regiões Sul e Sudeste. Mas, em 1985 já contaremos com aproximadamente noventa distribuidores.
TM – Há ociosidade na fábrica?
Stedile – Não. Os nossos 1 200 funcionários trabalham em dois turnos, fazendo um mix de produção de caminhões, motores, tratores e agora, também, motocicletas. A produção é de sessenta caminhões por mês, mas, em decorrência do nosso sistema, podem ser fabricadas duzentas unidades. A versatilidade, nesta parte, outra vez, acontece em virtude da falta de burocracia. Nossa produtividade crescente é fruto também de nossos funcionários superespecializados, idade média de doze anos na empresa enquanto a Agrale tem apenas dezenove anos. Lógico que a qualidade é o maior reflexo de tudo isso. Em 1985, ainda, aumentaremos em 15% nossa área industrial.
TM – Por que a cabina em fibra de vidro?
Stedile – A fibra é o material mais adequado, a manutenção é simples, não há deformações e é mais leve.
TM – Com a associação com a Cagiva para a produção de motos, quais as perspectivas para 1985?
Stedile – Nossas exportações, compostas basicamente de motores e tratores, deverão alcançar US$ 2,5 milhões, 100% a mais que as deste ano. Isto porque imprimiremos uma maior agressividade. O mercado interno também será melhor e estamos projetando um faturamento de Cr$ 300 bilhões, contra os Cr$ 66 bilhões de 1984. Quanto ao nosso novo produto, as motos SXT, temos certeza de que alcançaram os cerca de 10% do mercado brasileiro. Até 1986, lançaremos mais duas motos de maior potência.
TM – Há o mesmo otimismo em relação às fábricas de materiais de fricção?
Stedile – Tanto a Lonaflex ou Fras-le, que detêm juntas 65% do mercado, devem ter um bom ano. Para melhorar nosso produto e aumentar sua penetração nos EUA, em 1985, inauguraremos uma nova fábrica em Caxias do Sul, com 10 mil m2, cujo produto não terá amianto (exigência americana). A substituição deste material por outras fibras vai reforçar ainda mais as expor- tações da Fras-le, que atualmente é um quinto de sua produção e corresponde a US$ 6 milhões, aliviando também seu ritmo de produção, que hoje é de 24 horas por dia.
TM – Esta produção será exclusiva para os EUA?
Stedile – Não. O desenvolvimento tecnológico deste novo produto beneficiará também nossos usuários no Brasil, pois, colocaremos o mesmo sistema em disponibilidade no mercado interno.
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