Eduardo Luís Pinto e Silva – À beira do caos.
Publicada originalmente na Revista BR n. 228 – novembro de 1985
A indústria ferroviária está em crise. E para encontrar uma solução para o problema, a diretoria da Abifer – Associação Brasileira da Industria Ferroviária, manteve um encontro com o Ministro dos Transportes, Affonso Camargo, quando foi entregue um Plano de Sobrevivência da Indústria de Equipamentos Ferroviários.
Eduardo Luís Pinto e Silva, presidente da Abifer, explica os termos desse Plano de Sobrevivência, justificando a visita ao Ministro.
– A indústria ferroviária está em crise porque a despeito das necessidades das redes: Fepasa, Vale do Rio Doce e CBTU, que têm carência de novos equipamentos, tais como carros de passageiros, locomotivas e vagões, o governo não libera as verbas necessárias. Assim sendo, as redes não atendem seus usuários como deveriam porque no Brasil não está se investindo em ferrovias e a indústria não tem serviço. Portanto, não tem dinheiro – diz ele.
Em virtude de ter sido constatado que as estimativas de aquisição e recuperação de equipamentos ferroviários são de tal forma reduzidas, o que poderá levar ao caos o parque industrial brasileiro de equipamentos ferroviários, tornou-se necessário este Plano de Sobrevivência, onde governo e indústrias, juntos, tentam achar uma saída para os problemas porque a indústria precisa, pelo menos, encomendas de um terço da sua capacidade de produção.
São pontos principais desse Plano de Sobrevivência:
1° – Pronto pagamento dos débitos pelas empresas operadoras – Rede Ferroviária Federal S/A. e Cia. Brasileira de Trens Urbanos – dos equipamentos produzidos e entregues pelos fabricantes de material ferroviário e que representam hoje, em atraso, uma verba de Cr$ 43,8 bilhões.
2º – Estudo de viabilidade dos financiamentos do BNDES à RFFSA para pagamento de aquisição ou modernização de equipamentos serem repassados diretamente aos fornecedores.
3.º – Revogação da instrução interna da RFFSA que impede o reajuste dos preços do material fornecido até as datas dos efetivos pagamentos.
4º – Andamento imediato da aquisição de vagões e do trabalho de reparação de vagões e locomotivas já programados pela RFFSA para o corrente exercício.
5º – Andamento imediato da aquisição e da reparação dos Trens-Unidade Elétricos já programadas pela CBTU para o corrente exercício.
6.º – Confirmação da contratação das restantes 70 locomotivas pela RFFSA, definida em contrato firmado em 1984: 20 para aquisição imediata e 50 para decisão da nova administração.
7.º – Apoio à solução dos problemas enfrentados pela Cia. do Metropolitano do Rio de Janeiro, de modo a permitir a renegociação dos contratos firmados com os fabricantes de material ferroviário e a retomada das entregas dos carros de metrô e de pré-metrô.
8.º – Reestudo da situação das cidades de médio e grande porte de modo a administrar, quando oportuna, a solução do Veículo Leve sobre Trilhos – VLT – excluída a priori da política de transporte urbano do governo passado.
9º – Admissão de representantes da indústria ferroviária, indicados pela Abifer/Simefre nos Conselhos de Administração das empresas operadoras de transporte ferroviário, assim como nos órgãos coligados formados em torno do Ministério dos Transportes para a discussão da política de transportes no Brasil.
10º – Admissão de representantes da indústria ferroviária, indicado pela Abifer/Simefre, na discussão de projetos financiados com recursos externos e avalizados pelo governo federal e que possam vir a representar a importação de material ferroviário.
11º – Cessação e transferência para o setor privado das atividades das operadoras ferroviárias que representam concorrência com empresas privadas nacionais, especificamente na fabricação de carros de linha e dormentes de concreto e na reparação pesada de material rodante.
12º – Início de estudos, com a participação de representantes da indústria ferroviária, sobre a definição de fonte permanente de recursos para investimentos no setor metro-ferroviário que permite a garantia de continuidade nos programas das empresas operadoras e na atividade da indústria privada.
Com tudo isso, a Abifer espera que pelo menos um terço da capacidade da indústria ferroviária brasileira seja ocupada, porque atualmente encontra-se ociosa, a fim de que, no futuro, não entre num colapso total.
Eduardo Luís Pinto e Silva reafirma que a indústria ferroviária espera que, pelo menos sejam liberadas para as redes, verbas para restauração do que já existe em termos de vagões e locomotivas, o que já manterá a indústria em funcionamento mesmo que os pedidos de novos equipamentos estejam racionados.
– A indústria de equipamentos ferroviários vive uma das suas sérias crises por falta de volume de encomendas, e o que é pior, apesar de as redes carecerem destes equipamentos que não são encomendados. Neste nosso Plano de Sobrevivência vai um apelo ao governo para que incremente a indústria ferroviária da mesma forma como ajudou a implantá-la no Brasil – concluiu.
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