Ano: 1861

Estrada União e Indústria

A primeira rodovia pavimentada no Brasil, a Estrada União e Indústria foi inaugurada em 23 de junho de 1861, ligando a cidade de Petrópolis (RJ) a Juiz de Fora (MG).

Fonte: DNIT(Histórico (dnit.gov.br)
Vista de um trecho da “União Industria” no início do século. Fonte: DNIT

O passo inicial desse empreendimento foi dado em 1674, quando Fernão Dias iniciou a expedição para o povoamento do território mineiro. Criou, então, um caminho provisório para os bandeirantes, que veio a ser o embrião da União e Indústria, de acordo com o site do Dnit.

Já no século XIX, Fernando Henrique Guilherme Halfeld, velho engenheiro, alemão de nascimento, recebeu do Império do Brasil, em 1836, o encargo de abrir uma variante do Caminho Novo, que então reunia, às suas margens, os vários povos da região, em um grande processo de sinecismo – refere-se ao processo de unificação de várias cidades independentes em uma única cidade, geralmente com o objetivo de fortalecer o poder político, econômico e social. Foi graças a esse sinecismo que a população de Santo Antônio do Paraibuna de Juiz de Fora foi, em 1850, levada à Vila, e logo após, à sede de Município.

A origem da construção dessa primeira Estrada de Rodagem do Brasil, maior obra de engenharia na América Latina em seu tempo, deu-se a 7 de agosto de 1852, quando Mariano Procópio Ferreira Lage obteve, graças ao Decreto nº 1.301, do governo imperial, autorização para a construção, melhoramento e conservação de duas linhas de estradas.

Fonte: A Estrada União Indústria em fotos | Ancelmo - O Globo

Fonte: A Estrada União e Indústria em fotos | Ancelmo – O Globo

O empreendimento, considerado por muitos como impossível de ser realizado, foi iniciado em 12 de abril de 1856, com a presença e o incentivo de Dom Pedro II. A obra exigia, entretanto, um esforço notável para os engenheiros e operários, já que a estrada era entrecortada por cursos d’água e pelas escarpas graníticas da Serra do Taquaril.

Mariano Procópio, então, contratou profissionais alemães. O brasileiro Antônio Maria de Oliveira Bulhões ficou responsável pelo trecho entre Petrópolis e Três Rios, enquanto o alemão Joseph von Keller assumia a responsabilidade do trecho de Três Rios a Juiz de Fora, na época, Cidade do Paraibuna.

O objetivo de Mariano Procópio com a construção da estrada era o escoamento do café da região. A rodovia foi concluída com 144 km de extensão – que podiam ser percorridos em 12 horas –, sendo 96 km no estado do Rio de Janeiro e 48 km em Minas Gerais. No trajeto, havia estações para troca dos cavalos das carruagens.

A Estrada União e Indústria favoreceu o desenvolvimento das duas regiões, proporcionando infraestrutura adequada para o escoamento de produtos e mercadorias. Em 1867, contudo, a chegada da estrada de ferro à localidade de Três Rios marcou o início da decadência da União e Indústria.

A historiadora Patrícia Falco Genovez transcreve, em seu artigo “A viagem enquanto forma de poder: a viagem de Pedro II e a inauguração da rodovia União e Indústria, em 1861”, um trecho do relato “Viagem de Petrópolis a Juiz de Fora por ocasião de inaugurar-se a Estrada União e Indústria”, que narra a chegada da Família Real portuguesa em uma das viagens feitas à cidade de Juiz de Fora para a inauguração da rodovia.

“A multidão ocupava todos os arredores. A comitiva imperial, atravessando por entre as alas assim formadas, chegou à quinta do Sr. comendador Mariano Procópio Ferreira Lage, destinada para residência de Suas Majestades e Altezas. À porta da casa foram as augustas pessoas recebidas com estrondosas aclamações, ao som do hino nacional tocado pela excelente banda de música da colônia, e por grande número de cidadãos. (…) Suas Majestades e Altezas recolheram-se para descansar, e as pessoas de sua comitiva, assim como os convidados recém-chegados, procuraram orientar-se a fim de acertarem quanto antes com os aposentos que lhes estavam destinados. O paço imperial achava-se disposto e mobiliado com extremo bom gosto e elegância, como tudo quanto foi feito pelo Sr. comendador Ferreira Lage. (…) O que sobretudo não se pode referir com precisão foi o transporte de que todos se possuíram, quando, dando apenas alguns instantes às necessidades do toilette, acharam-se na presença da mais esplêndida iluminação. Tudo quanto a vista alcançava na extensa área que tentamos descrever, oficinas, armazéns, serraria, olaria, moinho, toda sorte de numerosos edifícios, telhados, muros, paço imperial, arcos, jardim, cerca, pontes, arbustos, lagos, ilhas, coreto, gruta, colina, castelo, tudo enfim cintilava ao clarão de cinco mil luzes, lampiões chineses e copos, delineando os contornos dos objetos iluminados; e tudo isto fora aceso como por milagre, em um abrir e fechar d’olhos; tão bem dispostas estavam todas as coisas! E como se não bastasse o que víamos, grandes fogueiras coroando as alturas circunvizinhas, o céu recamado de estrelas, uma noite tão serena que as folhas das árvores não se moviam, nem uma luz se apagava, os ecos repetindo as lindas peças de música tocadas pela excelente banda da colônia e composta de instrumentistas que dez meses antes não conheciam as sete notas, eram outros tantos motivos de gozo. O toque das trombetas percorrendo a estação, e anunciando que o jantar nos esperava, arrancou-nos a custo da contemplação do maravilhoso quadro que tínhamos diante dos olhos” (GENOVEZ, 1998).

Referências Bibliográficas:

GENOVEZ, Patrícia Falco. A viagem enquanto forma de poder: a viagem de Pedro II e a inauguração da rodovia União e Indústria, em 1861. IN: Tempo: revista do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Niterói, Sette Letras, v. 3, n. 5, 1998.

BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (1994). Companhia Mineira de Eletricidade. Companhia Energética de Minas Gerais, Centro de Pesquisas Sociais, UFJF, pp. 19-20. Este texto está no Anuário Estatístico de Juiz de Fora de 2004.