Irani Bertolini – Dobrar a capacidade de transporte em caso de seca
Publicada originalmente no portal Portos e Navios – 16 de abril de 2024
Referência em logística na Amazônia, Irani Bertolini chegou a Manaus nos anos 70 e tornou-se dono da transportadora que carregava de móveis a soja e componentes eletroeletrônicos Amazônia afora. Diretor-presidente da Transportes Bertolini e da Beconal-Bertolini Construções Navais, hoje ele dedica-se também ao Sindicato da Indústria da Construção Naval (Sindnaval) e à Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas da Amazônia (Fetramaz).
Durante a Navegistic Navalshore Amazônia, realizada em Manaus (AM) entre os dias 10 e 12 de abril, ele participou do painel “Navegação interior – estratégias para navegabilidade durante a seca” e conversou com a Portos e Navios sobre o contexto político e econômico da navegação na região.
“O país, há quase dez anos, não enxergava a navegação direito. Ninguém falava em nada disso. Hoje, nos últimos dois governos, começaram a enxergar a navegação como realmente uma opção de transporte econômico e ambientalmente correto. Em questão de logística ideal, em primeiro lugar deveria vir a navegação de cabotagem; em segundo, a fluvial; em terceiro, a ferrovia e só depois, a rodovia, com o caminhão etc. Eu sou do setor de rodovia, mas falo as coisas corretas e as coloco onde elas devem estar. Infelizmente, 60% a 65% da carga brasileira anda por cima de pneus. Temos muita coisa pra fazer nesse país”. Confira:
PN – Que lições a estiagem de 2023 deixa para o setor naval?
IB – Muitas. São lições importantes e, também, preocupantes. Não se esperava uma estiagem dessa dimensão e ela trouxe diversos problemas para a navegação como um todo, principalmente a parte de cabotagem, em que os navios não conseguiram subir, faltando produtos e matéria-prima para a indústria, além de utensílios domésticos, móveis, material de construção. Tivemos um problema sério. A gente trouxe, com as balsas, algumas coisas, mas não conseguimos suprir a necessidade da época. Com isso tudo, nós, da navegação fluvial, já estamos planejando para ter um suporte maior. Estamos nos estruturando para atender a demanda em caso de necessidade; pretendemos, no mínimo, dobrar a quantidade de barcaças para poder trazer contêineres. Ano passado, atuamos com a média de 40. A Bertolini também está investindo em frota para poder atender, se ocorrer alguma necessidade por conta da estiagem. Esperamos que o Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] consiga fazer um trabalho preventivo para que não tenhamos problema de calado para os navios subirem [o rio].
PN- Como o senhor avalia as possibilidades do programa federal BR do Mar?
IB – Participei das discussões, fui a várias reuniões no Dnit, achei o projeto muito bom, mas, no final, as várias emendas feitas pelo Poder Legislativo desvirtuou o objetivo original do projeto. Como não foi ainda regulamentado, entendo que estamos na estaca zero.
PN- O senhor participou do lançamento da rota Manta-Manaus, em Tabatinga (AM), na véspera da Navegistic Navalshore Amazônia. Que impressões teve sobre a viabilidade do projeto?
IB – É um projeto audacioso porque tem vários problemas de navegação no trajeto do Rio Napo, que necessitam de dragagem. É um projeto que não é para amanhã. Vou mandar uma equipe da minha empresa fazer batimetria, analisar o rio, para poder ver que tipo de embarcação vamos poder usar naquela navegação e, se é viável. Tem que ver a viabilidade econômica também porque subir com uma barcaça com dois metros de calado, se tem uma capacidade de duas mil toneladas, ela teria que subir com mil, mil e pouco. Então, tudo isso demanda uma análise profunda. Eu acho que pode não ser bom logo de pronto, mas depois de uns cinco anos pode ser uma opção maravilhosa.
PN- Que avaliação o senhor faz da feira?
IB – Isso é importantíssimo para o setor de construção naval porque traz novos fornecedores, novos contatos, temos a oportunidade de conversar entre nós. Os estaleiros vêm aqui expor, trocamos informações, ideias, debatemos problemas do segmento. É importante para o país e para nós que estamos na Amazônia, numa ilha, cercados por água e ar. Então, trazer uma feira para cá, com todo esse pessoal, é fantástico! Eu diria que é um ‘ganha-ganha’ para todo mundo. A construção naval agradece muito.
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