Marcelo Kanitz Damasceno – A nova gestão da FAB nos esforços para defender, controlar e integrar o país
Publicada originalmente na revista Aerovisão n° 274 – ano 50 – jan/fev/mar 2023
Inovação, Velocidade e Adaptabilidade são palavras-chave para o excelente desempenho na missão da Força Aérea Brasileira (FAB) de Defender, Controlar e Integrar o território nacional. Nesse contexto, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, fala sobre o desafio de ocupar o cargo mais alto da Instituição além do empenho da FAB para que atinja uma perfeita governança em suas estruturas sistêmicas. Na entrevista, o Comandante destaca as prioridades da sua gestão e as novas perspectivas sobre o Poder Aeroespacial brasileiro, entre outros assuntos.
O senhor tem uma história de vida militar de mais de 40 anos dedicados à Força Aérea Brasileira e, em dois de janeiro deste ano, chegou ao cargo mais alto da FAB: o de Comandante da Aeronáutica. Nesse contexto, quais os maiores desafios dessa importante fase da carreira do senhor?
Penso que os maiores desafios estão associados à contínua responsabilidade da Força Aérea com a nação e com a sociedade brasileira. Como Comandante da Aeronáutica, tenho como compromisso cuidar de todos, incansavelmente, e com o valoroso auxílio e por intermédio do Alto-Comando da Aeronáutica, para que cada um de nós tenha plenas condições de desempenhar nossas tarefas, entregando à sociedade brasileira aquilo que ela, por fim, espera de sua Força Aérea: a convicção de que nossos céus estão bem guardados contra ameaças à nossa soberania.
Com esse pensamento, sou o sucessor de um legado deixado pelos ex-Comandantes da FAB, sobretudo no que concerne à preocupação constante com a qualificação, o amparo e o acolhimento das pessoas que dão vida à Força Aérea – militares da ativa, veteranos, pensionistas e servidores civis. Nesse sentido, continuarei intensificando as estratégias para defender, controlar e integrar o aeroespaço, que foram conduzidas com maestria pelos meus valorosos antecessores.
Ressalto que uma organização moderna e inovadora não pode abdicar de sua agilidade e adaptabilidade, tanto no planejamento quanto na execução das suas atividades em dimensões mais que continentais. Importante lembrar, portanto, que nossa instituição deve olhar a si mesma como uma complexa ferramenta e importante partícipe da sociedade brasileira.
Em suma, os desafios a serem enfrentados requerem empenho em atividades que resultem em altos níveis de prontidão, mormente por meio do aperfeiçoamento contínuo e coordenado das atividades de pesquisa e desenvolvimento, logísticas e operacionais.
Ademais, é impossível falar dessa minha nova fase da vida sem brilho nos olhos e orgulho no coração. Ao chegar ao posto mais alto da FAB, além de ficar extremamente honrado, pude admirar ainda mais essa Instituição brasileira que tenho a nobre oportunidade de servir por mais de quatro décadas. Afinal, todos puderam testemunhar, no dia da Passagem de Comando, que as oportunidades franqueadas ao filho de um Brigadeiro são igualmente oferecidas ao descendente de um Sargento. Naturalmente, esse será um dos meus maiores desafios: honrar o meu espelho, como um militar que pensa muito além de postos e graduações, pensa uma Força Aérea de todos e para todos os brasileiros.
Nesse cenário, quais serão as prioridades do Comando da Aeronáutica durante a gestão do senhor?
Durante o meu Comando, destaco que a governança e a gestão da Força Aérea Brasileira terão como foco o cumprimento da missão a nós confiada, no que diz respeito ao assíduo emprego de todos os esforços junto ao trinômio Defender, Controlar e Integrar. Convicto de que inovação, velocidade e adaptabilidade são atributos enaltecidos pelos homens e mulheres que doam o máximo de seus esforços para o cumprimento da nossa missão, compartilho com meus comandados algumas ações que devem permear nossos pensamentos em favor do contínuo aperfeiçoamento da Força Aérea: incrementar o foco na melhoria dos sistemas estruturantes gerenciados pelos diversos órgãos do Comando da Aeronáutica; dispensar a máxima atenção aos projetos sob responsabilidade da FAB com vistas às capacidades operacionais planejadas rumo ao futuro almejado; manter a priorização de recursos financeiros para a atividade-fim, sem prejudicar o fundamental apoio ao nosso efetivo, perseguindo a metodologia de um planejamento baseado em capacidades ; e aperfeiçoar o potencial de visualizar os variados meios da Força Aérea de forma ampla, favorecendo a celeridade e a precisão nos processos decisórios.
A FAB é uma instituição permanente do Estado Brasileiro, com a obrigação constitucional de garantir a soberania nacional. Como a Força Aérea tem potencializado a proteção do país nas três dimensões espaciais e nos modernos cenários de defesa?
Para garantir a defesa, a integração e o controle do espaço aéreo, a FAB tem atuado com contínuo aperfeiçoamento estratégico, operacional e tático. Nesse contexto, a elevada prontidão operacional é fator chave para o sucesso. Para tanto, o nosso foco está na harmonização de procedimentos e na integração das ações na execução das operações conjuntas, de forma sinérgica. O Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE), por exemplo, representa um marco para o planejamento institucional, balizando de forma assertiva as demandas do país no desafio de assegurar ao Brasil o acesso ao espaço.
No cenário tridimensional que a FAB protege, o “Controlar” diz respeito à responsabilidade da Força Aérea Brasileira pela prestação dos serviços de tráfego aéreo em todo o espaço aéreo brasileiro. Enquanto isso, o “Defender” refere-se à garantia da soberania do espaço aéreo, que inclui todo o território brasileiro e suas fronteiras, e também se relaciona com a defesa dos interesses nacionais na chama da Zona Econômica Exclusiva. Já a dimensão “Integrar” o território nacional ocupa-se das missões da FAB relacionadas às ajudas humanitárias, às ações cívico sociais, aos transportes de pessoas e suprimentos, aos transportes de órgãos e de urnas eleitorais, as evacuações aeromédicas e construções de pistas, ou seja: ações que levam direitos fundamentais à população em regiões de mais difícil acesso do País.
Sob uma perspectiva mais ampla, devemos buscar as mais promissoras aproximações com as demais nações, principalmente aquelas que prospectam maiores incrementos de capacidades e conhecimentos valiosos aos interesses nacionais e favoráveis ao Poder Aeroespacial brasileiro. O Gripen User Group, um agrupamento colaborativo das Forças Aéreas dos países operadores das aeronaves Gripen, é um exemplo de parceria estratégica a ser implementada. Nesse ambiente internacional cada vez mais interdependente, a cooperação ganha especial importância para potencializar a proteção do Brasil.
Com relação à interoperabilidade entre as Forças Armadas, o que tem sido realizado para incrementar as ações conjuntas?
Como Força Integrante do Ministério da Defesa, o Comando da Aeronáutica continuará pautando suas ações com as outras Forças Singulares em ambiente de respeito, camaradagem e integração profunda, prezando por uma estreita cooperação e valorização da interoperabilidade, buscando sempre uma atuação harmoniosa e conjunta, em prol do bem maior do Brasil e do fortalecimento da Defesa. A interação com as Forças Irmãs dar-se não apenas de forma direta, mas também por intermédio do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), com o intuito de otimizar o emprego dos meios combatentes e de suporte na defesa da Pátria, mormente durante os exercícios e operações no Brasil e no exterior, conjuntas e combinadas, humanitárias ou de salvamento, de proteção das regiões fronteiriças ou nas ações em apoio à sociedade civil.
Nessa perspectiva, a Força Aérea Brasileira permanecerá trabalhando na direção de incrementar a interoperabilidade nas operações militares de grande vulto, as quais demandam o emprego de meios de mais de uma Força Singular nas diversas ações necessárias à Defesa Nacional.
Com o intuito de ampliar a capacidade de defesa e integrar o território nacional, a FAB conta com novos vetores aéreos, como o F-39 Gripen, o KC-390 Millennium e o KC-30. De que modo o poder aéreo brasileiro é impactado com essas novas capacidades?
A aquisição de modernos vetores e sistemas, ocorrida nos últimos anos, proporcionou um aprofunda e necessária transformação em nossa Força Aérea, com inovações estratégicas e atualizações doutrinárias que criaram robustez na aplicação do Poder Aeroespacial, dentro do que preconiza nossa Visão de Futuro. Nesse sentido, a sinergia dos nossos meios faz ressaltar uma das principais características do Poder Aeroespacial – a adaptabilidade –, o que exige elevados graus de sintonia e de interação destes com a missão propriamente dita.
O Projeto KC-390 finalizará o seu desenvolvimento como a plataforma mais avançada do mundo na sua categoria, com respectivo potencial de vendas para outros países. Já o Projeto F-39 Gripen começou a entregar suas aeronaves para a operação junto à FAB, estabelecendo um patamar de operacionalidade e capacidade nunca antes experimentado. Adicionalmente, com a aquisição dos KC-30, a FAB une as possibilidades do KC-390 Millennium às características de emprego estratégico do Airbus A330-200, resultando em um significativo incremento em sua eficiência operacional. Esses dois novos aviões, com 59 metros de comprimento cada, são os maiores já operados pela Força. Mas, cabe nos divisar, imaginar e concretizar o futuro a longo prazo, aquele que proporcionará manter a Força Aérea no limiar do conhecimento e buscará enfrentar os desafios que ainda nem conseguimos imaginar. Para esse propósito, continuaremos a investir em pesquisa e desenvolvimento, apoiando fortemente nossas Instituições Científico Tecnológicas (ICT) na busca incessante pelo conhecimento.
O senhor poderia esboçar um panorama de como deve ser o futuro da Força Aérea Brasileira no que concerne à atuação dos seus Grandes Comandos para o cumprimento da sua missão?
O Comando da Aeronáutica requer de todos os seus integrantes o mais alto grau de dedicação e esforço para a consecução dos objetivos e metas propostas, a fim de bem cumprir a sagrada missão institucional, sempre em sintonia com os ditames da Constituição Federal, das demais regras, princípios e costumes que balizam a Defesa Nacional e o Estado brasileiro. Nesse diapasão, considerando principalmente que o COMAER é uma instituição nacional moderna, viva, dinâmica, ampla e, por conseguinte, complexa, não pode prescindir de estruturas sistêmicas robustas e capazes de propiciar o controle, a operacionalização e o emprego de seus meios com máximas eficiência e eficácia. Logo, com foco no contínuo aperfeiçoamento dos Órgãos Centrais que compõem os sistemas do COMAER, concito cada um de meus comandados a revisitar as estruturas sistêmicas que lhes competem, promovendo uma contundente análise da abrangência e da modelagem dos sistemas organizacionais de nossa Força, com vistas à implementação e ao pleno fortalecimento de sua gestão e governança. Faz-se imperativa a avaliação crítica e a posterior validação de cada sistema ou processo, em função do alinhamento de sua existência e a consecução dos objetivos estratégicos da FAB. Uma vez validados, cada um dos sistemas deverá instituir e acompanhar indicadores realmente relevantes, que forneçam a imagem precisa do desempenho do COMAER nos mais diversificados setores de atuação. Assim sendo, a FAB deverá somar esforços para que, com a maior brevidade possível, atinja uma perfeita governança dessas estruturas sistêmicas.
Para finalizar, em 2023 e nos próximos anos, quais as principais ações que a sociedade brasileira pode esperar do Comando?
“A felicidade coletiva é uma conquista incessante, uma luta sem trégua para o aperfeiçoamento dos processos sociais”, disse, em 1945, o Marechal do Ar Eduardo Gomes. A partir dessa reflexão, posso dizer que a sociedade brasileira deve ter a confiança de que possui uma Força Aérea atuante a qualquer tempo, em qualquer lugar. As novidades surgirão a partir dos fenômenos sociais, como foi o caso da Covid-19, quando as asas que protegem a soberania transformaram-se naquelas que repatriam, oxigenam e acolhem os brasileiros, com incondicional e permanente disponibilidade para servir ao país.
Lastreada no vetor aéreo e em suas características intrínsecas, como o alcance, a velocidade, a mobilidade e a flexibilidade, a FAB consegue chegar rapidamente às áreas mais longínquas de um país de dimensão continental, sempre em prol da defesa do nosso território, da integração nacional e do apoio ao país.
Nossa interface com a sociedade brasileira é fluida, pois somos parte indissociável e indivisível dela. A Força Aérea Brasileira sempre esteve presente nas mais diversas ocasiões em que foi demandada a contribuir. Nesse contexto, continuaremos firmes com o compromisso de manter nossos militares em permanente prontidão, trabalhando 24 horas por dia, sete dias na semana. Desse modo, a FAB sempre estará pronta para fazer frente às ameaças aos interesses nacionais, com ações que vão desde controle de tráfego aéreo, defesa aérea, segurança de instalações, busca e salvamento, transporte de órgãos, dentre tantas outras valorosas missões.
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