Nicole Goulart – O afamado SEST SENAT e o protagonismo feminino no transporte rodoviário de cargas
Publicada originalmente no Anuário NTC&Logística 2020/2021 – pág 170
Integrante do Sistema CNT desde 2009 e diretora nacional do SEST SENAT desde 2015, Nicole Goulart acredita que a coragem para ousar é um dos principais motivos do sucesso da entidade na representação do setor.
“Nós somos uma entidade jovem e não temos medo de ousar, de olhar para frente, de ajustar e de melhorar”, Ainda, cita o que foi feito na pandemia como exemplo desse sucesso: “O que fizemos na pandemia foi tirar um monte de plano que estava quase lá, fazer uma priorização de demanda e acelerar os projetos que se demonstraram fundamentais para o momento”, Confira a entrevista completa:
P. Você é uma mulher jovem e com cargo importante dentro do SEST SENAT. Para começar, gostaríamos de saber como você começou no SEST SENAT e quais eram os principais objetivos.
R. Entrei aqui no sistema CNT em 2009 como assessora sindical e vim para trabalhar no fortalecimento das entidades de classe. Na ocasião eu assessorava o presidente da CNT com o objetivo de fazer o movimento sindical se tornar cada vez mais forte. Sabemos que as entidades de classe, principalmente de trabalhadores, são muito organizadas, e as entidades patronais, de empregadores, são organizações que precisam de uma entidade forte que coordene toda essa estrutura, e a CNT é uma dessas entidades. Fui assessora por cinco anos, depois fui chefe do jurídico do SEST SENAT e em 2015 recebi o convite do presidente Clésio Andrade para assumir a direção nacional. Naquela ocasião eu tinha 28 anos, e era um momento em que nós precisávamos dar uma oxigenada no setor.
O que fizemos de lá para cá foi nos aproximarmos mais dos empresários. Tínhamos, e ainda temos, como missão aqui na entidade atender os trabalhadores do transporte, mas o empresário não era visto como peça fundamental. Enquanto instituição, acreditávamos que, atendendo ao trabalhador, atendíamos ao empresário, mas na verdade os empresários que nos pagam, é para ele que prestamos conta, então devemos atendê-lo também. A minha intenção era colocar o SEST SENAT à disposição dos empresários, e, como eu vim da estrutura sindical, fiz grandes aliados que auxiliam o trabalho que fazemos hoje aqui no SEST SENAT.
P. Como você atribui todo esse sucesso do SEST SENAT, mesmo com todas as dificuldades também pelas quais o Sistema S passou?
R. Nós somos uma entidade jovem e não temos medo de ousar, de olhar para frente, de ajustar e de melhorar. O que fizemos na pandemia foi tirar um monte de plano que estava quase lá, fazer uma priorização de demanda e acelerar os projetos que se demonstraram fundamentais para o momento.
Um deles foi a inclusão de cursos on-line entre os nossos serviços. As unidades ficaram fechadas, e sabemos que o transporte de cargas foi tido como essencial durante a pandemia, então duas semanas após o início das medidas de isolamento lançamos alguns serviços on-line na área da saúde.
Depois, começamos com a web aulas e percebemos que esses serviços serão combinados aos presenciais mesmo após a pandemia. Outro serviço que surgiu a partir das necessidades que os empresários nos demonstraram foi a criação de um MBA de finanças em parceria com a ITL. Nós ouvimos os empresários e percebemos a importância do suporte que estamos dando para todos os empresários do setor. Que bom que pudemos auxiliar os empresários, profissionais e o segmento como um todo nesse momento tão complicado.
P. A gente tem visto, até mesmo antes da pandemia, o crescimento do SEST SENAT em relação aos serviços que presta, além das novas unidades atendendo outros pontos pelo país e aumentando cada vez mais não apenas o nome da entidade, mas também o serviço que ela presta. Quais ainda são os principais desafios do SEST SENAT?
R. O principal desafio é estar onde o empresário está, diminuir as distâncias e mostrar o valor da aprendizagem profissional para o ganho da empresa; é agregar valor e mostrar para o empresário a importância de uma capacitação bem-feita. Temos hoje cerca de 155 unidades que atendem milhares de municípios, mas precisamos continuar próximos desses empresários que estão no interior, que nos remuneram.
O Brasil tem dimensões continentais, então é difícil levar o serviço para lugares no Norte do país, onde o acesso é feito a barco, por exemplo. Com relação a chamar a atenção para a importância da qualificação profissional, temos mudado esse cenário, mostrando que qualificar gera um tempo parado, mas dá resultados futuros. Estamos lidando com um público de idade superior a 45 anos, então falar para o profissional que ele está dirigindo errado e mostrar para o empresário que ele precisa levar esse profissional para se qualificar ainda é um dificultador.
P. Qual serviço apresentado pelo SEST SENAT você considera mais importante e indispensável para o motorista profissional?
R. Na área de aprendizagem, os cursos regulamentados, que são exigidos para o exercício da profissão, são indispensáveis e não tenho dúvida que o SEST SENAT oferece o melhor serviço. Isso primeiro porque são gratuitos para os motoristas e segundo porque trabalhamos fortemente contra a corrupção e falsos documentos. Na área de saúde eu diria que odontologia é o nosso carro chefe, pois é um serviço caro, que o convênio não cobre e que não existe na rede pública. Porém, não posso deixar de destacar a psicologia, que é um serviço essencial para combater a imagem que foi criada do setor e do motorista profissional sobre o uso de álcool e drogas. Além disso, lembro também dos serviços de fisioterapia e nutrição. De certo modo, os serviços são complementares, pois contribuem com diferentes fatores.
P. Você considera que durante a pandemia o SEST SENAT foi ainda mais importante para o setor de transporte? Por quê?
R. Sem dúvidas. Quando lançamos a campanha “herói caminhoneiro”, focando no motorista de carga, fomos para mais de 600 pontos entregar materiais de higiene e marmitex, que são coisas que parecem tão simples mas que naquela ocasião foram fundamentais. Ali mostramos para a população a importância dos motoristas profissionais, que sem eles não chegariam medicamentos, álcool e os mantimentos do dia a dia. Posso dizer que para nós foi muito difícil, os profissionais estavam com medo.
Naquela época estava tudo em lockdown. Quando decidimos ir, estávamos lidando com o medo, porém quando chegamos lá lidamos com a gratidão. Naquele momento as pessoas entenderam por que existimos. O motivo pelo qual nossa atividade existe. Não tenho dúvidas de que fomos essenciais para ao menos trazer um pouco de conforto para os profissionais.
P. As pessoas querem mais mulheres nos espaços e os números comprovam a eficácia dessa equidade. Como você avalia mais mulheres no setor? De que forma você acha que isso pode ser uma realidade?
R. Eu gosto sempre de olhar o copo mais cheio do que vazio. Acredito que já alcançamos grandes conquistas, sabemos que já crescemos muito, mas ainda existem espaços para serem alcançados pelas mulheres. Aqui no SEST SENAT, aproximadamente 60% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres não porque temos preferência, mas porque elas foram mais capazes e se mostraram mais preparadas nos processos seletivos que participaram.
O que eu penso é que falar de inclusão de mulheres no setor de transporte vai mais do que um querer, vai da mulher se sentir segura na profissão, de uma infraestrutura adequada nos pontos de parada, principalmente em banheiros, e de existir maior respeito e segurança para as mulheres na sociedade em geral. Já avançamos muito, mas existem conquistas que precisam de melhores políticas governamentais de inclusão e de proteção. Sou uma grande defensora dos direitos iguais, mas também acredito que cada gênero precisa de peculiaridades específicas para alcançar esses mesmos direitos.
P. Qual balanço o SEST SENAT faz de 2020 e quais são as expectativas para 2021?
R. Tínhamos grandes expectativas para 2020, o setor transportador estava crescendo. Em 2019, o setor de cargas foi responsável por mais da metade da nossa arrecadação. Então, esse ano, especialmente em janeiro e fevereiro, produzimos e entregamos mais em comparação ao ano anterior, começamos com o gás total. Aí veio a pandemia, e eu diria que fizemos tudo que foi possível. As inaugurações desse ano infelizmente foram praticamente todas adiadas. Inauguramos 13 unidades antes do início da pandemia e vamos inaugurar mais duas no final do ano, mas a previsão era de 25 unidades.
Acredito que fiz o que era possível enquanto líder de uma organização muito engajada. Como você disse, os empresários reconhecem nossos esforços, e graças a eles conseguimos fazer tudo isso. Para 2021 precisamos recuperar não com relação aos números, mas sim ao espaço do transportador. Sabemos que o volume de cargas ainda precisa aumentar e esperamos uma melhora no cenário político e econômico. Para isso, o SEST SENAT está aqui para oferecer todo o suporte.
Sozinhos não somos nada. A união do setor entre as entidades representativas é o que dá voz e força e representa o segmento. Então espero que em 2021 possamos afinar as parcerias, estar cada vez mais próximo do empresário, diminuir as distâncias, aumentar o entendimento sobre a importância da capacitação profissional e, principalmente, que tenhamos muita saúde para alcançar nossos objetivos.
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