Ineficiência causa prejuízo de US$7,5 bi/ano
A imprensa paulistana tem propiciado um contínuo debate sobre a qualidade dos transportes urbanos locais e, particularmente, sobre a responsabilidade da CMTC sobre eles. Nos últimos dias, discutia-se se os prejuízos da concessionária teriam sido de 400 ou de 700 milhões de dólares em 1990.
Esta não deve ser a questão fundamental. São tantos milhões de dólares, que qualquer das cifras demonstra, por si só, o descalabro a que chegou à operação municipal, exatamente aquela a que a prefeita Erundina pretendia confiar a total estatização do transporte paulistano.
Mas não são só esses os milhões que revelam o colapso do transporte coletivo. São também os sete milhões de deslocamentos que hoje se realizam a pé na cidade de São Paulo, e os quase outros tantos que se dão por automóvel, fazendo com que o transporte público nele incluída a já significativa contribuição do metrô e dos trens metropolitanos – não represente mais do que 35% dos deslocamentos diários. E, o que é ainda mais grave, o transporte por ônibus, único que atende a cidade toda, se realiza nas piores condições de que se tem notícia desde 1960, com pingentes pendurados nas portas ou sobre os tetos, sofrendo acidentes graves todos os dias.
A conseqüência econômica desse descalabro, além dos prejuízos astronômicos da CMTC que, apesar de todos esses gastos, mantém nas ruas uma frota suja, fumacenta, com veículos danificados, de lanternas quebradas e suspensões tortas, também se mede por outros milhões de dólares. Pode-se avaliar hoje que somente a parcela dos usuários do transporte público em São Paulo sofre uma perda anual, decorrente do excesso de tempo perdido e da queda de sua eficiência cotidiana no trabalho, da ordem de 7,5 bilhões de dólares. Sim, quase 2 vezes o valor do orçamento municipal ou de 10 a 20 vezes o prejuízo da CMTC.
Esse é o lado mais gritante da coisa. Enquanto a administração municipal discute a ideologia do transporte público ou a dimensão dos prejuízos de sua companhia, o povão perde centenas de milhões de dólares, sem que ninguém se dê conta disso. O Município, o Estado, a Nação, enfim, pagam altíssimo tributo pela ineficiência da máquina pública.
É preciso que a administração pense menos na sua burocracia e mais nos problemas da população. Sem isso, este país não sairá da condição terceiro-mundista em que se encontra, e mesmo com a euforia discursiva da produtividade, da competitividade e da qualidade.
O Governo do Estado, por seu turno, não pode continuar na posição de mero espectador, como se o problema não fosse seu também ou como uma administração paternalista, que pensa já fazer muito com a construção do metrô. A capital de São Paulo é o centro das atividades do Estado, portanto, a sua ineficiência condiciona também a produtividade estadual.
Construindo 2,5 km de metrô por ano, o Estado levará 150 anos para ter uma rede semelhante à de Paris ou Nova York. Enquanto isso, a sociedade perde anualmente recursos que dariam para construir pelo menos 50 km de metrô. Portanto, o problema é gerencial e deve transcender as discussões institucionais ou de ordem ideológica.
É preciso agir. É preciso investir imediatamente na construção de uma rede de vias exclusivas, para o transporte por ônibus. É preciso retomar os programas de trólebus, para reduzir a poluição e o ruído. É preciso expandir a intermodalidade, evitando aquela barafunda, de ônibus que percorre o corredor Santo Amaro, desfigurando-o como linha tronco.
E tudo isto custa muito menos do que construir metrô, custa menos ainda do que o prejuízo da CMTC, custa infinitamente menos do que as perdas econômicas da população.
Autoria: Adriano Murgel Branco *
Data: agosto de 1991
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(*) Superintendente de Planejamento e Desenvolvimento do Instituto Mauá de Tecnologia. Diretor da BRC, Consultores em Logística e Planejamento e ex-secretário dos Transportes do Estado de São Paulo