Manutenção de sistema de sinalização na serra funicular
Após terminar o estágio de engenharia na Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, da Rede Ferroviária Federal S/A, fui contratado como engenheiro estagiário e, já como empregado no Departamento de Sinalização, conheci as várias áreas e setores do departamento da estrada de Santos a Jundiaí e de Roosevelt a Mogi das Cruzes.
Nessa época, ainda era forte a existência da sinalização mecânica, especialmente no trecho de Santo André a Paranapiacaba e na Serra Funicular, já que os trechos de Santo André a Jundiai, Roosevelt a Mogi linhas Tronco e Variante do Poá. Serra Cremalheira e a Baixada Santista – contavam com sinalização automática do tipo CTC – Centros de Controle Centralizado -, localizados nas Estações da Luz, Roosevelt, Paranapiacaba e Piaçaguera. A Serra Funicular funcionava 24 horas por dia, muito embora já com o funcionamento da Serra Cremalheira que, operava somente no período diurno e praticamente com o transporte de minério de ferro para a COSIPA.
Recebi a missão de resolver o problema de alimentação elétrica dos sistemas de sinalização e de segurança da Serra Funicular, que envolviam os sistemas de sinal do cabo, linha franca e sinal mecânico; para tanto, deveria conhecer os sistemas in loco e inspecionar os locais de instalação dessas fontes de energia – tarefa realizada em conjunto com o contramestre da sinalização nos cinco patamares da Serra.
Para minha surpresa, em um armário localizado embaixo das cabinas de sinalização de cada patamar se encontrava a dita alimentação dos sistemas, formada por pilhas telefônicas enormes, não mais utilizadas hoje em dia, com a tensão elétrica individual de 1,5 volts e tamanhos de 15 cm de altura x 6,6 cm de diâmetro. A quantidade de pilhas utilizada para alimentar os sistemas em 110 e 12 volts beirava 90 pilhas em cada armário e em cada patamar, dando 450 pilhas na serra toda.
Dados os altos índices pluviométricos, de descargas elétricas e de trovoadas na Serra de Paranapiacaba, era comum uma descarga elétrica atingir os trilhos e o cabo de tração do funicular, afetando todo o sistema de alimentação formado pelas pilhas.
Um dos sistemas de segurança de vital importância para funcionamento da serra era o sinal do cabo, porque, se o cabo de tração saísse fora das polias, era necessária a paralisação imediata da tração das composições naquele patamar. O sistema era constituído por uma linha física, isoladores de chifre ao longo das curvas da via permanente ligados a essa linha física, um relê de circuito-de-via ligado a essa mesma linha física e as pilhas de alimentação, de tal forma que, quando o cabo esbarrava nos isoladores de chifre, uma campainha era acionada na cabina do patamar e o cabineiro avisava a máquina fixa para parar a tração. Por tratar-se de linhas abertas, qualquer descarga elétrica atingia todo o sistema e, por conseguinte, curto-circuitava todas as pilhas; quando isso acontecia, era uma correria para conseguir substituir cerca de 90 ou até 180 daquelas enormes pilhas de telefone.
Após submeter o projeto de readequação do sistema à apreciação do engenheiro chefe da sinalização, a missão foi cumprida eliminando-se as pilhas e substituindo-as por fontes retificadoras e baterias alcalinas, além da adoção de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas e os necessários aterramentos dos equipamentos.
Com essas medidas, eliminou-se um grande custo de manutenção e, com certeza, tornou-se o sistema de sinalização mais seguro até a desativação do Sistema Funicular na década de 1980.
Autoria: João Dini Pivoto *
Data: 01 de dezembro de 2021
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(*) Engenheiro Eletricista e de Segurança do Trabalho Pós Graduado em Gestão-Enfase em Negócio Especialização em Sinalização Ferroviária – Japão Especialização em Tração Elétrica – Argentina Conselheiro Regional do CREASP pela AEEFSJ/Membro do CB 6-ABNT Comitê de Sinalização