Modernidade e progresso são a porta de entrada para o futuro

Para os próximos anos, as projeções da indústria automobilística brasileira indicam o crescimento seguro da produção de veículos, da comercialização no mercado interno e também das exportações, expansão que já será sensível no final deste ano. O mercado interno, em 1988, deverá consumir pelo menos 100 mil unidades a mais do que no ano passado, e às exportações realizadas em 1987 serão acrescidos cerca de 5 mil veículos. Para 1989 e a primeira metade da década dos 90 as perspectivas são ainda melhores: teremos, no ano que vem, eleições, e o novo governo deverá continuar empenhado na promoção do desenvolvimento econômico e social.

A partir da hipótese de índices de crescimento de 3%, 5% e 7%, existem boas razões para crer que em 1995 o mercado consumidor brasileiro poderá absorver 1 milhão de veículos, talvez ainda mais.

Quanto ao mercado externo, as projeções apontam, igualmente, um crescimento para algo próximo de 500 mil unidades. Estes são, sem dúvida, indicadores respeitáveis de crescimento – e que a indústria automobilística está determinada a perseguir -, se consideradas as dificuldades com as quais o setor conviveu nos últimos anos.

Convém lembrar, contudo, que os níveis alcançados em 1987, ano-base para o cálculo destas projeções, são inferiores aos registrados há dez anos e também aos conquistados em 1976 e 1975. No ano passado, foi colocado no mercado interno volume superior somente ao do distante ano de 1971. Para um setor dinâmico como a indústria automobilística, 17 anos são um passado realmente remoto.

O segmento das exportações, que em 1987 atingiram níveis históricos, é capítulo que merece ser destacado. O volume de 345.555 veículos colocados em mercados externos no ano passado ficou longe de surpreender: em 1981 o Brasil já superava a marca das 200 mil unidades exportadas.

A conclusão a que se chega é absolutamente simples: a indústria automobilística brasileira atua hoje, julho de 1988, em níveis já ultrapassados pela sua própria história.

Produzimos menos do que há 13 anos; vendemos menos ao consumidor brasileiro do que há 17 anos e, proporcionalmente, exportamos pouco.

É sempre bom lembrar que o percentual de rentabilidade sobre a renda líquida do setor foi gravemente negativo num período de quatro anos seguidos, até 1984, e deste fato as empresas ainda não se recuperaram totalmente. Num passado recente, o do Plano Cruzado, nunca foi tão grande a defasagem entre os custos de produção e os preços finais dos veículos. Somado a isto, as autoridades econômicas optaram pela criação de artificialismos: a adoção do empréstimo compulsório e o crescimento do índice do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que colocaram o Brasil na condição de ser o País onde é cobrada a maior carga tributária do mundo. E no meio deste autêntico caldeirão, que simplesmente refletiu a ausência de uma tão necessária estratégia de política industrial, estava a indústria automobilística, vila e ré dos males da economia.

O exercício da “liberdade vigiada”, após vários anos de rígido controle do CIP (Conselho Interministerial de Preços), teve neste últimos meses a virtude de recuperar parcialmente a indústria automobilística de uma quase crônica falta de rentabilidade. Mas, no que diz respeito à exportação, os problemas persistem, a ponto de também comprometer a lucratividade das empresas nas vendas externas.

A defasagem cambial acumulada nos últimos cinco trimestres, a partir de janeiro do ano passado, atingiu o índice de 39,7%, enquanto os custos de produção evoluíram 981,2% neste período e a desvalorização cambial atingiu exatos 673,2%. Até maio, a defasagem era de exatos 42,9%. São índices que refletem uma situação particularmente grave. Mas apesar dos contratempos, a indústria automobilística não abre mão do direito de acreditar, e muito, no futuro. Nossos resultados, tanto no mercado interno quanto nas exportações, aliados à perspectiva do futuro, demonstram o seu otimismo e a sua disposição de continuar investindo aqui.

No que diz respeito à indústria automobilística, é histórica a sua disposição e a sua determinação de ir à frente, de também buscar objetivos comuns ao bem-estar e ao progresso da Nação. A conquista do futuro e da modernidade é um objetivo permanente: já é hora, talvez até um pouco tardia, de todos – trabalhadores, empresários, governo -, decidirem persegui-lo com real determinação.

Autoria: André Beer *

Data: julho de 1988

Publicação original: CLIQUE AQUI

Publicação no acervo FuMTran: CLIQUE AQUI

____________________________________________________________________________

(*) Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e vice-presidente da General Motors do Brasil.