…não dá para responder em poucas palavras
Há perguntas cujas respostas deveriam ser “sim” ou “não”. Qualquer coisa além atrapalha a compreensão e o raciocínio. Existem, entretando, aquelas que não se pode responder de forma monossilábica. Ficam sem sentido.
Dia desses um amigo e respeitado profissional de logística me perguntou sobre o uso de tecnologias no transporte, na logística e nos negócios . A resposta, ou as respostas vão muito além de argumentos de “a favor”, “contra” ou “indiferente”. Sendo mais específico: não existe “indiferença” no emprego de tecnologia, seja em que atividade for.
Ao manifestar a minha opinião sobre determinadas questões volto, com frequência, ao Novo Estado Industrial de John Kenneth Galbraith da década de 60, mas extremamente atual: a teoria do “fator escasso na economia”.
Houve período em que esse fator escasso foi a terra e, daí o poder da igreja e dos senhores feudais; tivemos o Capitalismo Industrial, cujo fator escasso foram as máquinas (vapor eletricidade) e depois o Capitalismo Financeiro que se tornou dono das máquinas sem precisar tê-las como posse ou propriedade.
Mais recentemente (meados do século XX) a tecnologia se tornou o fator escasso da economia. Essa etapa encontra excedentes de capital à disposição para financiar o desenvolvimento e desencadear a produção em massa e sempre de olho no consumo e não na produção.
Desde Adam Smith (Riqueza das Nações) já se sabia que a produção é apenas parte do problema e, de todos, o menor. Desde que exista liberdade para o consumo é possível pensar na divisão de trabalho de forma a possibilitar a aprendizagem e a massificação.
E nos tempos atuais a tecnologia -devidamente cooptada pelo capital-, inventa, adatpa, obsolesce e torna a inovar numa espiral cuja evolução é tão rápida quanto se queira ou quanto se tenha definido tê-la.
Quando iniciamos a reflexão das respostas rápidas e monossilábicas, do sim e não sabíamos que roteirar um percurso é diferente para o itinerário do passageiro e da carga. Otimizar espaços no interior de um veículo tem regras diferentes para o transporte coletivo e para os grandes volumes de mercadorias.
Rastrear um veículo com a finalidade de protegê-lo contra roubos é diferente de fazê-lo para eficientizar o processo de entregas, por exemplo.
A telefonia celular foi massificada para facilitar a mobilidade e resultou numa mudança de hábito entre falar em tempo real ou escrever pelo Whatsapp. Há informações concretas que se escreve mais no smartphone, descendente legítimo dos celulares, que o uso de voz . Trata-se muito mais de um dispositivo de comunicação que um sucedâneo do telefone. Trata-se do substituto do telefone no qual é até possível falar, mas isso agora é detalhe.
O emprego de tecnologia nos transportes e na logística é, como em todos os segmentos da atividade econômica, não mais uma opção: trata-se de uma etapa na qual estamos inseridos e que resta apenas (vale destacar a palavra “apenas”) em função do tempo que será requerido para a sua implementação.
As estatísticas acerca das tecnologias natimortas é mais difícil de serem alcançadas, mas partindo de comparações com outros segmentos econômicos dá para afirmar que não é inferior aos 30% , ou seja, uma parcela significativa de invenções, inovação ou novos processos, morrem sem nunca terem sido implantados comercialmente.
O transportador que hoje quisesse tomar a decisão de roteirizar as entregas de suas cargas teria que assimilar uma extensa cadeia de valor, conhecer os processos, racionalizá-los, adaptá-los e educar as pessoas com as quais teria que lidar na sua implementação e, com isso, teria trabalho e despesas com as quais não contava ter que enfrentar.
Somos ardorosos defensores do emprego de tecnologia. Mais: somos incentivadores da adoção de tecnologias, novas ou nem tanto, e do emprego de evoluções contínuas nessas atividades.
O que não dá é fugir das perguntas ou tentar responder de forma sintética, abreviada ou monossilábica quando a pergunta surge: “o que você acha da tecnologia X ou Y ?
Respondendo em poucas palavras: acho excelente!!!
Autoria: Paulo Roberto Westmann
Data: 24/09/2017
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