O paradigma da mão-de-obra
A sociedade brasileira, ao longo dos últimos anos, vem mudando uma grande quantidade de paradigmas culturais, políticos e econômicos. Velhos paradigmas vêm se modificando em todos os segmentos. No segmento de transporte, por muitos considerado conservador (este também é um paradigma em mutação), também caíram velhos paradigmas. Só para citar um exemplo, comum a caminhões e ônibus, o paradigma de veículo pesado ser equipado com rodas raiadas acaba de ser integralmente modificado. Nenhum montador produz veículos com este equipamento standard, situação inimaginável há quatro anos.
Em acréscimo, um dos mais resistentes paradigmas do transporte começa a mudar: o da valorização da mão-de-obra Decorrente de um dos mais arraigados paradigmas de nossa sociedade, a mão-de-obra, seja de motorista, mecânico, borracheiro, ou o trabalho “braçal” no transporte sempre foi subvalorizada.
Salários baixos, encargos socais não pagos, falta de ferramental apropriado, ausência de condições de higiene e treinamento inadequado produziam, segundo alguns analistas, mecânicos e serviços de baixo custo. Salários melhores, encargos pagos, disponibilidade de ferramental, boas condições de higiene e saúde, e treinamento intensivo produziam, segundo os mesmos peritos, serviço de alto custo.
O curioso e que esses conceitos, embora validos para todo tipo de transporte têm valorização diferente para cada tipo de produto.
Por exemplo, já presenciamos um frotista discutir (negociar) durante horas o valor da hora de mão-de-obra a ser aplicado em seus caminhões, e acertar no mesmo momento o orçamento de mão-de-obra de reparo de um automóvel pelo dobro do valor horário.
Qual a razão da distinção? Será que o produto automóvel e duas vezes mais sofisticado tecnicamente que o produto caminhão? Ou ainda e duas vezes mais difícil formar e manter um mecânico de automóveis? Logicamente não. E mais um paradigma.
As mudanças começaram pela constatação numérica, provocada pela forte recessão em 1990. O custo real de cada operação, por fim, incluiu custos raramente considerados e recentes, como qualidade e produtividade. Passaram também pela avaliação do tempo dedicado pelas empresas na administração de atividades que eram diretamente relacionadas ao transporte. Em consequência, parte do mercado descobriu as vantagens da terceirização. Agora são cada vez mais constantes, por exemplo, os contratos de manutenção, onde as empresas contratantes começam por avaliar e exigir treinamento, ferramental, salários adequados para terem a garantia de qualidade e produtividade, estas sim, inequívocos indicadores de baixo custo.
Bons tempos! Estes dois novos paradigmas são muito bem-vindos!
Autoria: Luís Carlos Name Pimenta *
Data: novembro de 1994
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(*) Diretor comercial da Vocal Comércio de Veículos Ltda.