Psicologia a serviço do TRC
Para falar sobre violência no trânsito é preciso primeiro entender a violência em si, hoje um fenômeno mundial. E ela nada mais é do que uma exteriorização da agressividade. Como as pessoas não conseguem controlar a agressividade. Como as pessoas não conseguem controlar a agressividade, o resultado é essa violência desmedida que impera nas casas, nas famílias, nos campos de futebol e, é claro, no trânsito. E essa violência não se manifesta só nas cidades, quase todas estranguladas, sem roteiros alternativos para aliviar o tráfego. Também se manifesta nas rodovias.
Há motoristas de caminhão que brincam nas estradas. Para esses, a representação do poder que eles têm nas mãos é muito grande. Pessoas com alto grau de agressividade não podem estar puxando uma carreta ou um coletivo cheio de passageiros, porque não estão preparadas para enfrentar as situações difíceis que surgem no trânsito. Mas há tipos mais perigosos, que não têm controle emocional, que possuem sérios distúrbios neurológicos, que são portadores de patologias mentais graves e que a qualquer momento podem tornar-se violentos, causar danos pessoais e materiais, praticar homicídios. Existem também aqueles que usam álcool, drogas, tranqüilizantes, inibidores de sono. Tudo isso é fator de risco, que coloca determinados motoristas na categoria de criminosos.
Por isso a seleção de motoristas é tão importante. Eles devem ter boas noções de perícia de trânsito, bons reflexos, controle, equilíbrio e, principalmente, saber que a empresa se importa com eles, com sua vida, que os respeitam como indivíduos. Todas as pessoas têm suas angústias, que se refletem na conduta, no trabalho, na produção. Com o motorista não é diferente. Ele muitas vezes é obrigado a passar meses fora de casa, preocupado com o bem-estar da família, e ainda suportar estradas mal pavimentadas, violentas, perigosas. Se ele não estiver bem preparado para enfrentar todas essas situações, o resultado poderá ser catastrófico.
Um motorista cheio de problemas e preocupações, sem respaldo da empresa onde trabalha, vai ter limitações de ordem física e emocional e isso influenciará seu trabalho. Ele não vai se incomodar em cuidar do veículo, da carga, da manutenção. Não vai se preocupar com o desgaste do patrimônio que lhe foi confiado nem com a imagem institucional da empresa. E se algo grave acontecer, a empresa é que será condenada pela opinião pública. “O motorista da empresa tal” – é essa a imagem que fica na memória das pessoas.
Foi para equacionar esses problemas que em 1984 criamos o Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito (Cepat). Nesses cinco anos temos prestado assessoria a empresas públicas e privadas e a órgãos governamentais. Atuamos junto às equipes de recursos humanos, assessorando-as diretamente ou apenas dando consultoria, propondo planos de ação e estratégias. Buscamos a valorização do motorista, criando condições para que ele cresça profissionalmente.
Nosso trabalho é de dinâmica de grupo. Fazemos uma espécie de “diagnóstico” da empresa, localizando os pontos mais frágeis e atuando neles. Os motoristas, quando apresentam problemas, são levados ao Cepat para tratamentos clínicos de reciclagem, onde a avaliação psicológica é acompanhada pela avaliação técnica, feita em equipamentos de simulação. Trabalhamos com o conceito de direção defensiva, mas a nível individual, onde a pessoa é percebida como um todo, como um ser humano que circunstancialmente é motorista e encontra dificuldades ao exercer a profissão.
Para a empresa, as vantagens de um funcionário satisfeito são muitas. Ele vai se sentir ligado à transportadora, retribuir a confiança e o interesse que lhe são dedicados. Essa conscientização leva a reduções nos gastos com os equipamentos, à projeção de uma imagem positiva da empresa e, principalmente, leva à redução do número de acidentes.
Autoria: Salomão Rabinovitch *
Data: junho de 1989
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(*) Psicólogo, titular do Cepat e membro da Academia Paulista de Psicologia