Safra menor, mas sem crise

Quem apostou numa crise de abastecimento em 1988 pode comprar ingresso para outro espetáculo. A nova safra de verão será provavelmente menor que a do ano passado, mas ainda superior à que os pessimistas vinham anunciando desde o início do plantio. O que mais faltará neste ano será dinheiro no bolso do consumidor, não comida nos mercados e feiras.

Três fatores explicam a redução de tonelagem nesta safra: diminuição da área plantada, substituição de milho por soja (com menor peso por hectare) e falta de chuva em algumas regiões ao longo de janeiro. Em dezembro, a Companhia de Financiamento da Produção (CFP) estimou que Centro-Sul e Rondônia colheriam, na safra de verão 87/88, 52,7 milhões de toneladas dos oito principais produtos da época – arroz, feijão, milho, sorgo, amendoim, mamona, soja e algodão em caroço. Isso seria apenas 1,1 milhão a menos que a colheita do ano passado. No início de fevereiro, no entanto, a CFP informou que estava revendo seus cálculos – para baixo – por causa da estiagem que afetara algumas áreas.

De acordo com a primeira estimativa, a produção de milho deveria ficar, no Centro-Sul, em 21,6 milhões de toneladas. Em condições favoráveis, o Nordeste poderia produzir 1 milhão de toneladas talvez 1,5 milhão. No ano passado, a colheita nacional de milho chegou a 25 milhões. Agora, estímulo à produção nordestina existe: o preço mínimo para a região, fixado no final de janeiro, incorporou um extra, por conta do frete que seria gasto para levar milho de outras partes do País até lá. Com estoques superiores a 2 milhões de toneladas e um consumo de aproximadamente 25 milhões, é provável que o País necessite de alguma importação um pouco mais tarde, algo entre 1 e 2 milhões de toneladas.

No Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo e em Minas Gerais a colheita de milho deverá ser menor que a de 1987. Em Santa Catarina o volume se manterá ou poderá crescer um pouco – sempre ao redor de 2,3 milhões de toneladas. Para os catarinenses, valeu o estímulo de preço concedido no final do ano – correção mensal pela variação da OTN mais 1,2% ao mês durante os meses da safra. Além disso, o Estado é grande produtor de porcos e de aves e é claro que os catarinenses trataram de se prevenir.

Também a produção de arroz deverá cair um pouco, passando de 9,1 milhões de toneladas nos Estados do Centro-Sul para algo entre 8,7 milhões e 9 milhões de toneladas. Mesmo com a redução, a oferta total ainda será bastante boa, porque há estoques de 3,2 milhões de toneladas. Daí a pressão dos produtores gaúchos em favor da liberação de exportações. No exterior, quebras de safra em grandes países produtores fizeram o preço aumentar. A necessidade de mexer em estoques para exportação – e para abrir espaço à nova safra – deve resultar em movimentação extra de carga no Rio Grande do Sul. Além disso, espera-se uma colheita um pouco maior de arroz em Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

A soja voltará a ser a grande estrela da safra – em termos de crescimento, depois do salto do milho no ano passado. A produção estava sendo estimada, até o início de fevereiro, em cerca de 19 milhões de toneladas, dois milhões acima da registrada em 1987, mas até esse momento não se conhecia a revisão dos cálculos da CFP.

Nesta safra os agricultores também apostaram no algodão, atraídos pela recuperação de preços externos e internos, acentuada a partir do primeiro semestre do ano passado. Ao longo de 1987, soja e algodão foram os únicos produtos da lavoura com valorização superior ao rendimento da caderneta de poupança.

Quanto ao feijão, acabou ocupando uma área superior à que os pessimistas previram inicialmente. Até a primeira semana de fevereiro, a produção total esperada na safra das águas estava entre 2,1 milhões e 2,3 milhões de toneladas, acima, portanto, da obtida na primeira safra de 1986/87 (1,9 milhão). Havia alguma dúvida, entretanto, quanto à produção baiana, também possivelmente afetada pela falta de chuvas. Sem desastre, estimava-se que a Bahia poderia colher perto de 200 mil toneladas.

Com todos os problemas, a agricultura continua, portanto, mostrando respeitável vitalidade. E seu vigor se manifesta de modo muito especial nas regiões novas, como Mato Grosso, onde se espera uma produção de 4,7 milhões de toneladas de soja, arroz. milho e feijão, 15% mais que em 1987.

 

Autor: Rolf Kuntz *

Data: fevereiro de 1988

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(*) Editor de Economia do Guia Rural Abril