As redes sem fio estão mudando o cenário da comunicação
Não é preciso ser um especialista para notar que as redes sem fio vêm ampliando rapidamente sua presença nas empresas e já acenam com o momento em que serão utilizadas em casa, na comunicação entre equipamentos domésticos, algo que parecia ficção bem pouco tempo atrás. Essa rápida expansão se dá, claro, em razão das efetivas vantagens que oferecem, como fator de produtividade. E, como acontece com tantas outras tecnologias, a chamada tecnologia wireless nos chega através de expressões e siglas técnicas, uma barreira para os não-iniciados, que querem compreender sua utilização e funcionalidades. Este artigo apresenta um pouco da evolução e das aplicações das redes wireless e fala sobre as perspectivas que temos para os próximos dois ou três anos.
De início, vale notar que o grande desafio para chegar ao atual patamar tecnológico consistiu em consolidar um padrão de comunicação – por radiofreqüência – que servisse como base de conexão para os vários tipos de equipamentos, como computadores, impressoras, scanners, PDAs e outros.
Dispor de um padrão significa que aquele modelo é universal, ou seja, qualquer fabricante ou integrador pode criar soluções para esse ambiente, desde que respeitadas as específicações. Um requisito essencial do padrão era que ele oferecesse velocidade de transmissão para tornar viável seu uso de forma profissional. Embora o conhecimento para isso já existisse há bastante tempo, somente na última década foi possível transformá-lo em produtos estáveis. Hoje, quando se fala em redes locais wireless, supomos a existência de dispositivos de comunicação utilizando esse modelo.
Em busca de um padrão
Grande parte das redes locais sem fio em operação adota o padrão IEEE 802.11b (a sigla IEEE vem de Institute of Electrical and Electronics Engineers, órgão normativo sediado em Nova Iorque, que conta com cerca de 360 mil filiados, em mais de 150 países). Ou, como ficou também conhecido, Wi-Fi, que quer dizer Wireless Fidelity.
A principal característica do 802.11b é que ele permite a transmissão de dados a uma velocidade de 11 Megabits por segundo e atua na frequência de 2.4 GigaHertz, oferecendo 11 canais de comunicação. Antes que se conseguisse alcançar essa velocidade, a transmissão obtida nas redes wireless era menor, o que dificultava sua utilização em aplicações profissionais.
O alcance conseguido com o 802.11b depende muito do tipo de antena utilizada, que pode variar em ganho e tecnologia. Porém, a regra para uma antena padrão de 1 dBi (potência de emissão do sinal) é que ela alcance cem metros em áreas fechadas e até 300 metros em áreas abertas, ou externas. Estes números são uma base para visualizar as aplicações. Alternando essas antenas, pode-se alcançar distâncias de quilômetros e, assim, já existem diversos serviços de acesso à internet que oferecem conexão por rádio.
Preços em declínio e um número cada vez maior de dispositivos que podem se integrar à rede expandem continuamente o campo de aplicações do 802.11b ou Wi-Fi. No âmbito interno das empresas, são muitos os exemplos. Áreas como distribuição e armazenagem, que utilizam hand helds e PDAs nas tarefas de coletar dados e receber informações em tempo real, tornaram-se “clientes” naturais das redes sem fio e passaram a ” usufruir do beneficio de trabalhar com margens de erro próximas a zero, já que nenhum desses dados será colhido manualmente.
As aplicações profissionais e de benefício indireto para a evolução da cadeia de suprimentos também são grandes beneficiários dessa tecnologia. Com o uso de um ponto de acesso e de terminais de coleta de dados sem fio, podemos automatizar centros de distribuição, armazéns inteiros e áreas de inventário, trazendo ao processo de produção acuracidade, velocidade e informação em tempo real. Com um terminal, o operador pode ler códigos de barras, identificar falhas e alimentar diretamente o banco de dados da empresa. A cadeia de suprimentos fica mais completa, e o controle, mais rápido e correto.
Uma das aplicações mais interessantes são os chamados hot spots, isto é, locais públicos de acesso. Isso significa que, ao tomar um café em uma lanchonete, a pessoa poderá ligar seu laptop, navegar na internet, ler os e-mails e realizar tarefas que, antes, só eram possíveis através de uma linha telefônica cabeada. Os provedores de acesso já se movimentam em direção a essa aplicação – pela qual o usuário paga -, identificando um novo e promissor filão para a venda de serviços.
Podemos ver aqui uma tendência em acentuado crescimento e vislumbrar que em um futuro próximo todos os lugares de grande concentração de pessoas irão contar com pontos de acesso para uma rede wireless, como já acontece nos aeroportos.
Mais velocidade: IEEE 802.11g
Fiel ao ritmo intenso da indústria microeletrônica, a evolução dos dispositivos que integram as redes sem fio vem acontecendo de forma acelerada. Nos últimos anos, essa indústria criou novos padrões de comunicação que oferecem maior capacidade de transmissão para superar o 802.11b. Embora o nome traga a diferença de uma única letra, o IEEE 802.11g difere bastante na velocidade. Oferece 54 Megabits por segundo, quase cinco vezes mais que os 11 Megabits por segundo de seu antecessor, mas opera também na freqüência de 2.4 Gigahertz e, da mesma forma, dispõe de 11 canais de comunicação.
O natural, portanto, é que o IEEE 802.11g, que mantém total compatibilidade com o anterior, substitua o padrão vigente e é isso que vem acontecendo. A migração está em pleno curso e deverá se estender pelos próximos anos, condicionada pelos fatores custo e benefício. Hoje, o preço dos dispositivos IEEE 802.11g é maior que os do padrão Wi-Fi, mas isso e apenas uma questão de tempo. Com a devida expansão de escala, o recém-chegado deverá, já em 2005, ser comercializado a preços iguais ou menores dos que os de seu antecessor.
Outro caminho encontrado pela indústria na busca de aperfeiçoamento das redes sem fio foi o IEEE 802.11a, que vem acrescentar mais uma sigla à rica nomenclatura do segmento. Nesse caso, o objetivo é operar no espectro de freqüência de 5 Gigahertz, podendo chegar também até a velocidade de 54 Megabits por segundo.
Mas, apesar de trazer uma vantagem técnica, pois ao operar nessa faixa sofre menos interferência, já que são poucos os produtos presentes nesse ciclo, o IEEE 802.11a não recebeu a adesão esperada. Isso porque seu raio de alcance é menor – 50 metros nas melhores condições – se comparado com os outros dois. O alvo dos desenvolvedores do IEEE 802.11a era ter esse padrão para aplicações de streaming de vídeo, teleconferências, voz sobre IP (protocolo internet) e outras que necessitam de maior largura de banda. Entretanto, com o surgimento do IEEE 802.11g, com igual capacidade de transmissão e raio de alcance maior, essa oferta deixa de ter sentido. WiMax, a nova geração está chegando
A próxima empreitada da indústria wireless chama-se WiMax e vai trazer uma alternativa à conexao de internet doméstica hoje disponível, como o cabo ou o DSL (banda larga), comercializado pelas operadoras de telefonia. Com a vantagem de propiciar a comunicação móvel, sem fio. O nome é simples, mas o WiMax esconde também as siglas do mundo técnico. É uma implementação do padrão IEEE 802.16 que estabelece a troca de dados entre equipamentos, com velocidade de até 70 Megabits por segundo, em distâncias de até 50 quilômetros. Na verdade, ele se subdivide em duas versões, uma para a comunicação fixa e outra para a móvel.
O WiMax fixo foi ratificado em junho de 2004. O padrão define a utilização do espectro de freqüência entre 2 e 11 GHz e os fabricantes dedicam-se aos testes finais. A expectativa é que os primeiros produtos sejam lançados em meados de 2005. Chips menores, antenas mais potentes e menor consumo de energia são componentes de inovação desse próximo passo das redes sem fio.
O WiMax móvel, por sua vez, cuja ratificação estava prevista para o final deste ano, define a utilização do espectro de freqüência entre 2 e 6 GHz. E aqui está uma atraente promessa da mobilidade wireless: ele vai permitir, por exemplo, que o usuário de um notebook saia de uma base WiMax e se conecte a outra sem perder seu endereço de rede. Um dos diferenciais técnicos desse padrão é que utiliza recursos semelhantes ao da telefonia celular para garantir que, com um número menor de antenas (bases), seja possível obter um bom balanceamento de banda.
O cronograma desenhado pela indústria prevê para os próximos dois anos a entrada em cena do WiMax dentro da seguinte seqüência: até meados de 2005, o lançamento dos primeiros produtos da modalidade fixa, que receberão o sinal através de uma antena e farão o compartilhamento interno com o Wi-Fi (figura A). Em meados de 2006, teríamos o lançamento de chips com tamanho reduzido, para serem colocados dentro de notebooks e outros tipos de computadores, fazendo com que o sinal chegue diretamente das bases WiMax para os usuários finais (figura B).
Mas, como sempre, o fator evolução da tecnologia deve pesar no desenrolar desse processo. Os chips, por exemplo, terão que apresentar um consumo muito baixo de energia, como os encontrados hoje no Wi-Fi.
O preço dos chipsetes WiMax precisarão baixar consideravelmente. Hoje, um receiver dos que estão sendo testados custa, em média, US$ 500.00 enquanto um modem DSL custa, no máximo, US$ 100.00.
Para alguns analistas de mercado, se os dispositivos WiMax não alcançarem preços próximos a US$ 50.00 sua comercialização não pode ser prevista para 2006. O WiMax terá, na sua forma final, que atender ao roaming (o uso do equipamento quando ele se desloca para a área de outra concessionária) sem perder o endereço da rede e o acesso à internet. E isso só será possível com a ratificação do padrão, programada para o início de 2005.

Autoria: Conrado Navarro *
Data: 01 de janeiro de 2005
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(*) Analista de projetos na Intermec Technologies Corporation