Ano: 1879

Ciclo da Borracha

O Ciclo da Borracha, ao contrário de outros ciclos econômicos, como os da cana-de-açúcar, do ouro e do café, é caracterizado por sua brevidade. Apesar de a atividade extrativista da borracha ter começado em princípios do século XIX, o auge da produção e da exportação do produto aconteceu entre os anos de 1879 e 1912.

O curto tempo em que essa atividade econômica vigorou como um campo de potencial importância para a administração – primeiro, do Império, depois, da República – deveu-se, em parte, ao simultâneo cultivo do café na Região Sudeste. Este ciclo recebeu, segundo Valderiza de Almeida Alves (2016), maiores investimentos no que se refere ao cultivo, à colheita e ao emprego de outros tipos de mão de obra que não exclusivamente a escravizada. Tais medidas, além de uma disseminada cultura do consumo do café pelo mundo, favoreceram que esse grão se tornasse a economia prioritária na época, ficando a borracha relegada aos confins do território brasileiro.

Apesar disso, o Ciclo da Borracha revela aspectos econômicos e sociais bastante importantes sobre uma região, até pouco tempo atrás, desconhecida por grande parte da historiografia brasileira. Os seringais amazônicos, de onde se extraía o látex, foram palco de significativas transformações sociais durante esse ciclo, como a imigração de trabalhadores nordestinos, principalmente cearenses, para os seringais dos atuais estados do Acre e do Amazonas. A dura jornada de trabalho, o exaustivo processo de extração e as marcas semifeudais do regime de servidão que caracterizaram o Ciclo da Borracha foram responsáveis por inúmeros conflitos sociais na região, além da violência que marcou o trato degradante dos trabalhadores.

Cabe realçar que a existência das seringueiras e as propriedades da borracha já eram conhecidas anteriormente à presença dos colonizadores nas Américas. Segundo Márcio Souza, “Cristóvão Colombo dá a notícia de sua existência, em uma segunda viagem à América, observando os habitantes do Haiti utilizarem o látex na fabricação de bolas miraculosas” (SOUZA, 2009, p. 238).

No Brasil, antes mesmo da chegada dos portugueses, os indígenas nativos da região amazônica já sabiam da existência e dos potenciais das seringueiras, realizando a manobra para extração do látex pela sangria da árvore.

Sobre o assunto, parece ser consenso entre os pesquisadores da Amazônia e do Ciclo da Borracha que o principal promotor do látex foi Charles Marie de La Condomine. Naturalista francês, La Condomine observou os nativos extraírem “um líquido leitoso, viscoso, dessa árvore – posteriormente denominada Hevea brasiliensis – e reparou que esse líquido, após coagulado, produzia uma substância maleável, de elasticidade e impermeabilidade sem-par, que os índios sabiam como moldar em forma de seringas, botas, garrafas e brinquedos” (WEINSTEIN, 1993, p. 22).

O pesquisador levou o material para a França, em 1745, e continuou a importar pequenas quantidades da Guiana Francesa nos anos seguintes. Suas atividades foram, de acordo com Barbara Weinstein, fundamentais para disseminar o uso da borracha na Europa durante o final do século XVIII, quando também foram descobertas novas finalidades e aplicações para ela (1993, p. 22).


Habitação de um seringueiro na Selva Amazônica. Frisch, Albert, 1865. 

As primeiras grandes quantidades de borracha bruta extraídas e exportadas pelo Brasil aparecem em dados da década de 1820 em diante. Barbara Weinsten (1993) ressalta que, em 1827, a Amazônia exportou 31 toneladas de borracha bruta e de produtos acabados de borracha. Em 1830, esse número subiu para 156 toneladas e, em 1836, para aproximadamente 189 toneladas.

Foi após o ano de 1839 que a extração e exportação da borracha conheceram franca expansão no Brasil. O momento está relacionado com o aperfeiçoamento do processo de vulcanização realizado naquele ano por Charles Goodyear. Em linhas gerais, a vulcanização consiste na aplicação de calor e pressão em uma composição de borracha para dar forma e propriedades ao produto. Trata-se de um processo de modificação da borracha natural obtida através de sua combinação com o enxofre.

A nova técnica permitiu que a borracha se tornasse resistente ao calor e ao frio, sem perder sua elasticidade e a tornando apropriada para a produção de uma série de produtos, como “rodas dentadas, correias, mangueiras, telhas e até suspensórios, sapatos e capas de chuva” (WEINSTEIN, 1993, p. 23).

O aumento da demanda internacional pela borracha, vinculada também ao contexto da Revolução Industrial, disparou a produção brasileira, fazendo com que a Amazônia exportasse mais de 388 toneladas do produto em 1840. A partir de então, as cifras só aumentaram. Entre 1846 e 1860, a borracha exportada no Pará e em Manaus saltou de 673 para 2,6 mil toneladas. (idem, ibidem).

O mercado da borracha atingiu o maior patamar, tanto na exportação do produto quanto nos preços, em 1855. Já o auge de sua produção aconteceu entre os anos de 1879 a 1912, quando se exportou mais de 30 mil toneladas do produto. Esta quantidade subiu para 40 mil toneladas em 1910, poucos anos antes de o Brasil experimentar o início da decadência desse ciclo (ALVES, 2017).

A expansão da produção da borracha provocou uma série de transformações na região amazônica. As mais significativas foram sentidas em cidades como Belém do Pará e Manaus, onde a exportação da borracha fez crescer a densidade demográfica, incentivou o comércio e outras atividades econômicas. Somado a isso, esses locais experimentaram um processo de modernização e urbanização, como a implantação de redes de energia elétrica; de sistemas de água encanada e esgoto; a implementação de bondes elétricos e a construção de avenidas (PORTAL SÃO FRANCISCO, s/d).

Em Manaus, foram construídos o Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega. Em Belém, surgiram o Mercado de Peixe, o Mercado de Ferro, o Theatro da Paz e diversos palacetes residenciais. Nessas construções, que marcam um período de luxo e opulência consequentes do auge da produção da borracha, nota-se a influência arquitetônica europeia nas fachadas e interiores (PORTAL SÃO FRANCISCO, s/d).

O aumento da densidade demográfica dessa região se deu, principalmente, em virtude das políticas de incentivo à migração de trabalhadores de outras partes do Brasil, sobretudo do Nordeste, para os seringais amazônicos.

Maria Liziane Souza Silva (2018) ressalta que a primeira onda de migração de trabalhadores nordestinos aconteceu em 1877, mediante benefícios e custeios de passagem concedidos pelo governo. A intenção era substituir a mão de obra indígena, vista muitas vezes com preconceito e desprezo pelos seringalistas, bem como atrair contingentes populacionais para ocupar regiões completamente desabitadas.

Para Silva, ainda existiam outros fatores que condicionaram a migração de nordestinos para a Amazônia, como “o preconceito pela labuta nos cafezais da região sudeste; as ilusões de enriquecimento rápido exposto pelo boom da borracha; as propagandas realizadas por seringalistas para atrair essa mão de obra; os subsídios governamentais concedidos para o transporte; a facilidade do transporte de cabotagem (navegação mercante) até o porto de Belém; ruptura da resistência dos senhores de terras nordestinas à saída de homens” (2018, p. 63).


Imagem presente no documentário “Soldados da Borracha” (2019), dirigido por Wolney Oliveira, que conta a história de migrantes cearenses às regiões do Acre para trabalharem como seringueiros durante a década de 1940.

Para além da perspectiva de melhores condições de vida, uma das principais razões que fomentaram a migração de nordestinos para a região amazônica foi a seca da década de 1870, que assolou os sertões e obrigou milhares de famílias a se retirarem.

A maioria dos trabalhadores que chegava no Amazonas e no Acre provinha das áreas sertanejas do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. As migrações foram responsáveis por aumentar expressivamente o contingente populacional do vale amazônico. Entre 1877 e 1900, chegaram à Região Norte mais de 158 mil trabalhadores nordestinos, cerca de 20% da população amazônica na época (SILVA, 2018, p. 63).

Afora as mudanças nas principais cidades exportadoras de borracha e na densidade demográfica, a região amazônica experimentou franca transformação no sistema de transporte. A principal delas ocorreu com o avanço na abertura e promoção da navegação pelo Rio Amazonas e seus afluentes, que permitiu não só o transporte de grande parte dos contingentes de trabalhadores para as áreas de seringais do Acre, por exemplo, mas também o comércio de produtos necessários para o abastecimento e, essencialmente, o transporte da borracha para os portos da região.

A expansão da produção da borracha implicava em medidas mais efetivas para a integração da região amazônica com o resto do país e o mercado mundial de produção e consumo. Foi durante o auge do ciclo, portanto, que o governo brasileiro concedeu, ao engenheiro George Earl Church, a permissão para a construção de uma ferrovia ao longo das cachoeiras do Rio Madeira.

A famosa ferrovia Madeira-Mamoré, conhecida pela trágica quantidade de trabalhadores que morreram durante sua execução, foi financiada pelo empresário estadunidense Percival Farquhar. Sua construção teve início em 1907 e se traduziu numa das mais emblemáticas tentativas de ocupação e integração da Amazônia. O último trecho da estrada foi inaugurado em 1912, juntamente com a cidade Guajará-Mirim, fundada nessa mesma data (PORTAL SÃO FRANCISCO).

Apesar do custo econômico e social para a construção da ferrovia, seu propósito de servir como via para o escoamento da borracha e de outros produtos da região amazônica não se cumpriu, visto que, nos anos posteriores, o Ciclo da Borracha experimentou uma forte decadência.


Borracha para a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré [Iconográfico]. Imprenta Santo Antônio, RO: [s.n.], 1909-1910. Acervo Digital Biblioteca Nacional.

Outro fato merece destaque no rol das transformações causadas no contexto do Ciclo da Borracha: a incorporação definitiva da região do Acre ao território brasileiro. As fronteiras da região já haviam sido definidas desde o período colonial graças a tratados assinados entre Portugal e Espanha. A região do Acre, porém, era uma questão ainda em disputa no século XIX, principalmente depois dos processos de independência de países da América do Sul.

A questão relaciona-se, ainda, com o contexto da Guerra do Paraguai. A fim de resolver o problema da posse do Acre entre Bolívia e Brasil, foi assinado, entre os dois países, um primeiro tratado em 1867. De um lado, a Bolívia demandava acesso ao Oceano Atlântico por meio da navegação pelos afluentes do Rio Amazonas. De outro, o Brasil queria garantir a neutralidade da Bolívia durante a Guerra do Paraguai, ainda em curso naquele momento.

“Nesse tratado, a Bolívia concordou com o princípio do uti possidetis de facto, oficializando todas as possessões brasileiras que havia na região em disputa. Em troca, a Bolívia garantiu o controle de cinco portos no rio Paraguai e o acesso de possíveis navios de guerra bolivianos através da Amazônia brasileira. De qualquer forma, o tratado ainda garantia a possessão do Alto Acre ao governo boliviano. Tal tratado foi, no entanto, rechaçado pelo governo brasileiro em 1883, e novos tratados, em 1887 e 1896, esbarraram no Congresso brasileiro, que não os ratificou” (FERNANDES, s/d).

O impasse em torno da questão resultou no envio de tropas bolivianas para a região, em 1898, e na criação de uma estação fiscal em Puerto Acre, que impôs uma tarifa de exportação de 30% sobre o preço da borracha, medida que enfureceu os seringueiros do Amazonas.

Organizados com a ajuda do governo do estado do Amazonas, os seringueiros rebelaram-se contra o controle boliviano, tendo como líder o jornalista e diplomata espanhol Luís Galvez Rodrigues de Arias, que proclamou a República do Acre em 1899 e propôs sua anexação à República Brasileira. Tal proposta foi recusada pelo governo em meio a protestos dos bolivianos.

A atuação de Arias, no entanto, foi contraditória, visto que o espanhol, que naquele momento liderava o governo acreano, decidiu impor uma tarifa de 20% sobre a borracha local, aumentando ainda mais a insatisfação dos seringueiros da região e perdendo o apoio do governo do Amazonas, que almejava tais recursos (FERNANDES, s/d).


José Maria da Silva Paranhos Júnior. Revista Nossa História (Our History magazine), issue 25, 2005. Domínio Público. 

Luís Arias foi substituído por Antônio de Sousa Braga, mas a República do Acre acabou sendo retomada pela Bolívia em 1900. Para garantir a posse de fato do território, o governo boliviano resolveu criar a negociação do Bolivian Syndicate. A organização nasceu em Londres, no ano de 1901, mas tinha na sua direção um primo do então presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt. Além disso, o capital da empresa era majoritariamente estadunidense.

“O capital autorizado montava a cinco milhões de libras e deveria ser vendido a investidores em troca de um aluguel de 30 anos do território do Alto Acre. O Syndicate estava autorizado a administrar o Alto Acre, a recolher impostos, a estabelecer uma polícia, a criar rede de esgoto e outros serviços públicos e a construir ferrovias, portos e outras instalações para comunicação” (FERNANDES, s/d).

Obviamente, a criação do Sindicato gerou forte oposição entre os brasileiros, não só os que habitavam a região, mas os que ocupavam o parlamento. O temor era de que a região se tornasse uma “nova África” e abrisse precedente para o imperialismo estrangeiro, causando perda da soberania nacional.

As autoridades brasileiras decidiram, então, fechar as vias de navegação pelos rios da região. Além disso, o Exército ocupou o Acre, e o governo brasileiro decidiu comprar o Syndicate. Finalmente, em 1903, José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, também conhecido como patrono da diplomacia brasileira, negociou a assinatura do Tratado de Petrópolis com representantes do governo boliviano.

O documento oficializou a integração da região ao território brasileiro, em troca de uma indenização à Bolívia. Também determinou a cessão de terras no Mato Grosso à Bolívia e a promessa da construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que criaria um canal de transporte para a produção boliviana para o Atlântico (FERNANDES, s/d).

Em que pesem as transformações no campo social, econômico, demográfico e nos sistemas de transporte, a expansão da extração e da produção da borracha ao longo das décadas finais do século XIX e início do século XX não foi capaz de alterar o sistema de produção (WEINSTEIN, 1993, p. 24).

“Por certo, a produção se intensificara, mas permanecia nas mãos dos seringueiros escassamente capitalizados, que só contavam com a ajuda de algumas ferramentas muito simples e da boa vontade da natureza. E, antes do surgimento das plantações asiáticas, praticamente toda a borracha bruta provinha de fontes silvestres e extremamente espalhadas. Em suma, seria difícil imaginar bases mais frágeis para um setor manufatureiro de tal importância” (idem, ibidem).

Esse quadro foi agravado por alguns fatores, dentre os quais os conflitos entre trabalhadores e seringalistas. Estes subjugavam os migrantes a um regime de dívidas e, consequentemente, à servidão do trabalho, que se traduzia em jornadas e metas cada vez mais desumanas, a fim de quitarem os débitos contraídos.

Segundo Barbara Weinstein (1993), esse sistema repetiu um padrão vinculado ao sistema colonial, no qual a metrópole desenvolveu uma indústria avançada, em contraste com uma economia colonial essencialmente pré-capitalista, de baixíssimo desenvolvimento e quase nenhuma especialização das atividades. Esse contraste manteve-se ainda no século XIX, quando países menos desenvolvidos, como os da América Latina, continuaram desempenhando um papel econômico voltado à exportação de matéria-prima e à produção de produtos agrícolas.

“Nessas circunstâncias, era espantoso o contraste entre o extremo industrial do empreendimento e a produção de matérias-primas por ele utilizadas: e em parte alguma foi mais chocante esse contraste que no caso da indústria de produtos de borracha, tecnologicamente avançada e altamente capitalizada, alicerçada no sistema primitivo de extração de borracha da Amazônia” (WEINSTEIN, 1993, p. 24).

Assim, a produção da borracha na Amazônia advinha de técnicas pouco especializadas. Os métodos de extração e coagulação permaneceram basicamente os mesmos ao longo de todo o ciclo. Acrescente-se que os seringueiros faziam uso único e exclusivo das seringueiras nativas, sem a promoção de novos cultivos que pudessem expandir ou acelerar a produção.

Por fim, um dos aspectos que configuram esse sistema produtivo se relaciona com o próprio processo de colonização da região amazônica. Durante os séculos anteriores, eram comuns, segundo Weinstein (1993), as expedições coletoras na região, que foram, paulatinamente, estabelecendo a base da produção na Amazônia. Repetindo um sistema nativo, os colonizadores faziam uso da mão de obra indígena, que se dispersava por toda uma área em busca de substâncias naturais, como óleo de tartaruga, especiarias, madeiras de lei, óleos vegetais e sementes de cacau.

Essa ênfase nas expedições coletoras, portanto, foi o traço que diferenciou nitidamente a vida amazônica de outras áreas de colonização, além de atividades como a agricultura e a mineração. Assim, os colonizadores da região, cientes dos obstáculos naturais e mais ansiosos pela extração de matérias-primas e obtenção de lucros imediatos do que pelo empreendimento de cultivos ou economias a longo prazo, instituíram um sistema produtivo baseado no extrativismo.

Além dos aspectos citados anteriormente, a principal razão para a crise do Ciclo da Borracha no início do século XX foi a expansão da plantação das seringueiras no continente asiático. Esse processo começou em 1876, quando Henry Alexander Wickman, botânico inglês, furtou e contrabandeou sementes da Amazônia, que foram levadas para germinar e serem transplantadas nas colônias inglesas na Ásia (NETO, NOGUEIRA, 2016, p. 11).

(…) Henry Alexander Wickman largava de Belém, a bordo do navio Amazonas, no dia 29 de maio de 1876, levando 70.000 sementes da Hevea brasiliensis, colhidas em Santarém e retiradas para o Jardim Botânico Kew Gardens, em Londres, das quais germinaram apenas 2.397. De Kew Gardens as pequenas plantas foram expedidas em agosto de 1876 para o Ceilão e distribuídas para os Jardins Botânicos de Peradenya e Heneratgoda para aclimatação. No ano seguinte procedia-se a sementeira em Cingapura e daí para Perak no norte da Península e para os Estados Federados Malaios e Malaca em 1895 (BENCHIMOL, 1999, p. 208 apud NETO, NOGUEIRA, 2016, p. 11).


[Henry Wickham, que em 1876 dirigiu uma operação de contrabando de 70.000 sementes de seringueiras brasileiras, que depois de germinadas foram enviadas para o Ceilão e a Malásia, hoje grandes produtores de borracha natural. Revista Plásticos e Embalagens, nº 47. Agosto de 1975.] [Manuscrito]. Acervo Digital da Biblioteca Nacional. 

O sucesso da introdução de sementes nativas da Amazônia em outros países fez com que a produção de látex, muito mais especializada e racionalizada que no Brasil, atingisse patamares muito expressivos na Ásia. Em pouco tempo, as colônias inglesas da região transformaram-se nos principais exportadores da matéria-prima. A grande oferta do produto no mercado mundial provocou uma grande redução no preço, o que afetou ainda mais o Brasil entre as décadas de 1910 e 1920.

Os pesquisadores Neto e Nogueira (2016) apontam interessantes demonstrações das diferenças na coleta do látex na região amazônica e nas plantações asiáticas. Na Ásia, as árvores eram plantadas em aglomerados, o que facilitava a colheita, enquanto, na floresta amazônica, o acesso até as arvores nativas dependia também das condições do clima, das cheias dos rios e dos locais onde essas plantas estavam localizadas.

A especialização da técnica de extração na Ásia demandava uma quantidade menor de trabalhadores capazes de extrair uma quantidade maior de borracha. Ao contrário, no Amazonas, era necessário o emprego de mais homens, que extraíam uma quantidade menor de borracha. Evidentemente, essas diferenças se traduziam num maior volume de produção nos campos asiáticos e desaguavam no preço final da matéria-prima ofertada no mercado mundial.

O diferencial da borracha asiática em relação à amazônica encontrava-se nos fatores de custo de produção e aplicação científica empregados na sua plantação, enquanto a extração de goma silvestre era realizada de modo rudimentar, com as árvores nativas espalhadas pela floresta ou, ainda, com “média de 1,5 pés por hectare em exploração, na heveicultura oriental a densidade era de 200 pés, em média, por hectare (…)” (NETO, NOGUEIRA, 2016, p. 15).

A crise do Ciclo da Borracha impactou profundamente a integração e o desenvolvimento da região amazônica. Ao longo dos primeiros anos do século XX, acumulavam-se dívidas em nome do Estado, enquanto se experimentava a decadência das cidades e o êxodo de populações que, anteriormente, haviam chegado à região em busca de novas oportunidades.

As marcas desse período ainda se refletem na forma violenta como foram tratados os trabalhadores migrantes nos seringais, submetidos pelos seringalistas a longas e exaustivas jornadas de trabalho, num regime de servidão e de opressão.

O Ciclo da Borracha, pelas suas características econômicas e pelos impactos sociais, é subsídio fundamental para compreendermos o difícil processo de integração da região amazônica no corpo do território nacional durante as primeiras décadas do século XX. Um período histórico que carrega as contradições entre um passado colonial e as possíveis vias do desenvolvimento.

O Ciclo da Borracha, por suas características econômicas e pelos impactos sociais, é subsídio fundamental para a compreensão do difícil processo de integração da região amazônica no corpo do território nacional durante as primeiras décadas do século XX. Um período histórico que carrega as contradições entre um passado colonial e as possíveis vias do desenvolvimento.

Referências Bibliográficas:

ALVES, Valderiza de Almeida. O ciclo da borracha na Amazônia: nas linhas da história e nas entrelinhas da literatura. Anais da Abralic, 2017. Disponível em: https://abralic.org.br/anais/arquivos/2017_1522171537.pdf.

CUNHA, Euclides da. Amazônia: Um paraíso perdido. 2ª ed. Manaus: Editora Valer, 2011.

NETO, Thiago Oliveira; NOGUEIRA, Ricardo José Batista. A cidade de Manaus e a crise da borracha: uma breve análise histórica. Estação Científica (UNIFAP), v. 6, n. 3, p. 09-27, 2016.

PORTAL SÃO FRANCISCO. Ciclo da borracha, s/d. Disponível em: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/ciclo-da-borracha

SILVA, Maria Liziane Souza. A batalha da borracha: os migrantes nordestinos – memória e imaginário. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rondônia. Rondônia, 2018.

SOUZA, Márcio. História da Amazônia. Manaus: Editora Valer, 2009.

WEINSTEN, Barbara. A borracha na Amazônia: expansão e decadência, 1850-1920. São Paulo: Hucitec, 1993.