Travessia Manaus – Porto Velho e Belém

Travessia Manaus – Porto Velho e Belém
O lugar aonde caminhão vai pelo rio

O transporte rodoviário na Amazônia é uma aventura. Não existem estradas, mas há rios e balsas, lentas e perigosas. E cargas valiosas, como motocicletas, eletrônicos e outros produtos fabricados na Zona Franca de Manaus. Veja, a seguir, o que os caminhoneiros e as empresas passam para ligar a região Norte aos demais estados do Brasil.

Se na maior parte do país a infraestrutura rodoviária não está à altura do dinamismo do transporte de carga brasileiro, imagine na região Norte, principalmente no Amazonas, onde o problema é a total inexistência de rodovias. Um carro ou caminhão só chega a Manaus de balsa, através do Rio Madeira (de Porto Velho) ou do Amazonas (de Belém). Sobre essas embarcações, numa aventura demorada e perigosa, são transportadas até 40 carretas, a maioria sem o cavalo mecânico.

A maior parte da produção da Zona Franca de Manaus chega aos demais estados do Brasil dessa forma. A viagem de balsa pode durar até seis dias, para então seguir por rodovia. A Superintendência da Zona Franca (Suframa) estima que isso encareça os produtos em até 55%. Ou seja, todo o incentivo fiscal concedido às indústrias instaladas lá se perde no escoamento da produção.

Exemplificando, os caminhões levam em torno de cinco dias para chegar de Chapecó (SC) a Porto Velho (RO), carregando carnes, frutas, chocolate. Depois, podem demorar de cinco a oito dias, na balsa, para descer o Rio Madeira. Depende do nível da água, que é mais alto (e a viagem mais rápida) de março a setembro. A volta é sempre pelo Pará (Rio Amazonas), porque subir o Madeira demoraria ainda mais.

RETORNO

Quando a água baixa muito, a ida também é por Belém. De Chapecó a Porto Velho, são 3.000 km. De Chapecó a Belém, 4.700 km. Mesmo assim, em certas épocas compensa rodar mais por terra e pegar o Rio Amazonas, em Belém (PA). Não há problema de sazonalidade no Rio Amazonas. São mais ou menos quatro dias de viagem.

SÓ CARRETA

Em geral, só as carretas são embarcadas nas balsas. Os cavalos ficam esperando. Em Manaus, a movimentação é feita por contratados.

IRANI BERTOLINI

Mas não são apenas os aspectos geográficos e de infraestrutura que complicam a movimentação de mercadorias entre o Norte e o Sul. A segurança também preocupa, principalmente quando se trata de levar eletroeletrônicos. O empresário e sócio da Transportes Bertolini, Irani Bertolini, diz que é preciso investir em gerenciamento de risco.

Descendo a Belém–Brasília, a atividade fica mais arriscada a partir de Goiânia, quando as seguradoras passam a exigir escolta armada para as cargas de eletroeletrônicos. “Fazemos comboios. Temos constantemente três caminhonetes monitorando nossa frota na Belém–Brasília”, prossegue Irani.

Manter os caminhões circulando no Norte também não é fácil, segundo ele, pois falta assistência técnica. “A maioria das concessionárias não tem estoque de peças. Mesmo de avião, uma peça pode demorar oito dias para chegar.”

Este gaúcho se sente em casa na Amazônia

Poucos conhecem a realidade do transporte de mercadorias na região Norte como o empresário gaúcho Irani Bertolini, que é hoje (2022) o conselheiro titular da Federação das Empresas de Logística, Transporte e Agenciamento de Cargas da Amazônia (FETRAMAZ). Em 1976, como autônomo, ele fez sua primeira viagem a Manaus, saindo de Bento Gonçalves com um Mercedes 1111 carregado de móveis. Ida e volta, foram 40 dias.

Empresário e sócio da Transportes Bertolini, ele explora tanto o transporte rodoviário quanto o fluvial. No final de 2009, tinha uma frota de 40 empurradores e 60 balsas graneleiras, além de 300 caminhões e 1.500 semirreboques do tipo furgão.

Só em 1992 é que Irani se mudou para o Amazonas. Ele lembra que, após a primeira viagem, em 76, decidiu abrir uma empresa para levar móveis do Sul a Manaus. “A Belém–Brasília tinha sido recém-asfaltada e na Cuiabá–Porto Velho eram 1.500 km de chão batido. Às vezes, a gente tinha de improvisar pontes para passar”, conta. Segundo o empresário, até então os móveis só chegavam ao Amazonas de navio. “Não havia contêineres e os móveis sofriam grandes danos na viagem.”

Fonte: Revista Carga Pesada – 21 de novembro de 2009

Link: https://cargapesada.com.br/2009/11/21/o-lugar-onde-caminhao-vai-pelo-rio/

Vista de entrada de carretas na balsaVista de entrada de carretas na balsa

Marinheiros soltando cordas da balsa junto às carretasMarinheiros soltando cordas da balsa junto às carretas

Detalhes marinheiros soltando cordas das carretasDetalhes marinheiros soltando cordas das carretas

Vista das carretas na balsaVista das carretas na balsa

 

Detalhe de apoio e amarração de carretas na balsaDetalhe de apoio e amarração de carretas na balsa

Balsa com carretas navegando na travessia Belém-Manaus