Mobilidade Urbana

O rodízio do jeito que está em São Paulo já virou água*

Acredito que o prazo do rodízio na cidade e São Paulo já venceu. O sistema pode até ter sido fundamental nos primeiros meses de implantação, mas atualmente a população se adaptou, comprando um carro mais antigo. E o transportador rodoviário de cargas fez o mesmo ao adquirir um caminhão mais velho.

Vivenciamos uma realidade de congestionamentos com uma frota em circulação de cinco milhões de veículos, agravados por uma envelhecida frota, que acaba impondo à cidade uma velocidade média nas principais avenidas de 17 km/h.

A frota paulista de utilitários com idade média de 25 anos quebra sem sinal de aviso, contribuindo para os congestionamentos, pois como é usada apenas uma vez por semana, ninguém pensa nas necessárias manutenções a serem realizadas. Por outro lado, aqueles que não usam mão dessa medida, emplacam seus caminhões em outros estados e acabam gerando erários públicos em outros municípios, como a taxa de licenciamento e o IPVA, mas circulam e congestionam São Paulo.

Minha proposta é que os caminhões sejam liberados do rodízio, os mais velhos vendidos para o interior e todos os automóveis fiquem nas garagens nos dias de semana, durante os horários de pico, ou seja, das 07h30 às 09h30 e das 17h30 às 19h30. Nesses períodos somente seria possível o tráfego de táxis, ônibus, vans e caminhões.

Estaríamos preservando a qualidade de vida da população que não enfrentaria o stress no trânsito ao dirigir um ou até duas horas para se deslocar da residência ao local de trabalho, ou ainda enfrentar os lotados coletivos no caos paulistano.

Na metrópole com maior frota de ônibus do mundo (15 mil veículos), os coletivos passariam a rodar em média 70 quilômetros por hora, contra os atuais 16 quilômetros por hora, enquanto a expansão do metrô não chega.

Sabe-se que cerca de 75% da população paulistana usa o transporte coletivo. Sem a concorrência dos carros, tanto os ônibus quanto os caminhões rodariam mais rápido.

Entendo ainda que continua sendo um equívoco achar que tanto menor o veículo, menos ele congestiona. Veja o exemplo das Zonas Máximas de Restrição à Circulação (ZMRC) da cidade onde somente se pode utilizar o VUC (Veículo Urbano de Carga) com capacidade de carga para até 1,5 mil quilos e 5,5 metros entre pára-choques, enquanto o VLC (Veículo Leve de Carga) tem 6,3 metros de comprimento e carrega 4,5 mil quilos. Para o mesmo serviço de VLC são necessários três VUC’s.

Substituindo um pelo outro estaríamos ganhando mais de 20 metros de ocupação nas vias públicas, sem considerar o fato de que o VUC tem que fazer duas ou três viagens por dia do ponto de entrega até o terminal, visando sua reutilização.

Também não poderia deixar de mencionar que precisamos insistir na entrega em horários alternativos para as grandes redes de supermercado, atacadistas e varejistas, bem como hospitais e redes de postos de gasolina, conscientizando a sociedade da importância do abastecimento urbano.

Não quero ser um corporativista, mas sou um cidadão. Não gostaria de ter um caminhão na porta da minha casa todos os dias, mas quero ter a certeza de que se entrar numa padaria terei o pão para comprar.

O caminhão é um instrumento da sociedade que pode contribuir para a mobilidade urbana. Entretanto, antes que um colapso nos atinja, precisamos dar ao cidadão mais tempo, deixá-lo ir e vir a menos que todos tenham carros em São Paulo – e não consigam sair do lugar.

Autoria: Urubatan Helou *

Data: Janeiro/ fevereiro 2003

Publicação Original: Revista Força Iveco n°03 – ano I – 2003

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(*) Diretor-Presidente da Braspress e presidente eleito do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo e Região (SETCESP) para o triênio 2004-2006.